19 novembro 2009

Educação pela Arte e para a Arte



médium Dora Incontri /Schiller

A Arte, deusa ferida, vagueia pálida e fria pelas nações do planeta, à procura de devotos que a socorram, ensaiando despertar as sensibilidades adormecidas… Quem haverá de vir lhe prestar novamente o culto que merece, para que ela se recomponhe e brilhe no altar da Beleza, do Bem e da Perfeição?

É preciso que seus seguidores se despeçam dos lauréis, que aceitem servi-la desinteressadamente, que busquem se revestir da pureza moral, para não manchar sua divindade, que enverguem o heroísmo da virtude para se entregarem à posse dessa deusa…

Mas, como esperar que as sensibilidades, capazes de incorporar os eflúvios invisíveis do infinito, possam fazê-lo fielmente, sem que se enredem nas ilusões do corpo, sem que cedam aos apelos da vaidade, se não as educais para isso?

Educados pela Arte — todos os seres humanos devem ser. Pois que outro componente melhor e mais propício a fazer florescer a divindade interior do homem, que o de colocá-lo desde cedo sob a inspiração da Beleza e da Harmonia? Toda criança pode crescer sob o signo do equilíbrio se ao lado do pão, da idéia, da experiência e do brinquedo, lhe derdes o alimento da Beleza.., e se ela própria puder dar seus primeiros ensaios de criação livre e espontânea, percebendo e intuindo diretamente a sua infinita capacidade de criar e produzir. Não lhe imponhais modelos e padrões, deixai-a experimentar e achar a própria expressão.

Mas também não lhe negueis acesso ao que a cultura humana já compôs através do tempo. Deixai que as crianças bebam nas fontes mais puras da Arte terrestre… Que elas possam exercitar a sua sensibilidade, ouvindo as melodias mais doces jamais feitas; olhando as cores e as luzes mais sutis já tecidas; declamando os poemas mais elevados jamais compostos; sentindo as produções mais próximas da divindade que o homem já atingiu. Fazei isso com todas elas e se não tiverdes no futuro todos os homens literalmente artistas, tê-los-eis moralmente melhores e mais criativos.

Mas se perceberdes nessas almas, que tendes sob vossa tutela, um grande talento despontando, um germe latente de genialidade, então não deveis mais apenas educar pela Arte, mas para a Arte!

Não lhe estimuleis apenas a aprendizagem da técnica artística, como se o dom de compor, tocar, representar, pintar, escrever, fosse mero instrumento morto, código pronto de uso… Desenvolvei-lhe sobretudo o sentimento do Belo e do Bom, para que coloque seu talento a serviço dos homens e de Deus e não a serviço de si próprio.

Que esses gênios precoces não sejam cultuados como flores exóticas a que se deve admiração, mas não familiaridade. Que eles sejam amados como seres pertencentes à mesma humanidade de que todos fazeis parte…

Que se lhes dê o exemplo vigoroso da virtude moral, que lhes possa garantir a segurança de fazer de seus talentos um presente de Deus aos homens e não um elemento de perturbação social e de queda para si mesmos. Sobretudo, não percais com eles nem os laços de carinho nem o vínculo de uma autoridade moral, que os guie em seus primeiros passos, para que não se sintam isolados num mundo adverso, que os idolatra e os usa; que os explora e os denigre depois…

Se assim educardes vossos gênios — e eles virão em grande massa habitar entre vós — tê-los-eis como irmãos em vosso benefício e os vereis realizados e felizes, a salvo de todas as tragédias que têm sido o destino de muitas almas sensíveis, mas ególatras; generosas, mas vaidosas, que carregam entre vós o nome de artistas!

E, então, a deusa da Arte, soerguida da lama em que a lançaram neste século, se levantará luminosa, para conduzir a humanidade a outras esferas!

Fonte: Livro – Educação Segundo o Espiritismo – Editora FEESP

Perante a Arte


Colaborar na cristianização da arte, sempre que se lhe apresentar ocasião.
A arte deve ser o Belo criando o Bom.
Repelir, sem crítica azeda, as expressões artísticas torturadas que exaltem a animalidade ou a extravagância.
O trabalho artístico que trai a Natureza nega a si próprio.
Burilar incansavelmente as obras artísticas de qualquer gênero.
Melhoria buscada, perfeição entrevista.
Preferir as composições artísticas de feitura espírita integral, preservando-se a pureza doutrinária.
A arte enobrecida estende o poder do amor.
Examinar com antecedência as apresentações artísticas para as reuniões festivas nos arraiais espíritas, dosando-as e localizando-as segundo as condições das assembléias a que se destinem.
A apresentação artística é como o ensinamento: deve observar condições e lugar.

Conduta Espírita
Francisco C. Xavier e Waldo Vieira – André Luiz

25 agosto 2009

Últimas semanas para se inscrever na Mostra Espírita de Dança



Olá, artistas espíritas!!!


Estamos há poucas semanas do término das inscrições para VIII Mostra Espírita de Dança.

Um evento todo dedicado a Dança Espírita, que reúne bailarinos, artistas e simpatizantes da arte de todo o Brasil.
A mostra oferece oficinas ligadas à dança, palestras, momentos de reflexão e trocas de experiência, além de inúmeras apresentações de grupos espíritas de dança.

As inscrições para grupos e participantes encerram-se no dia 12 de setembro de 2009.
Interessados em participar devem ser inscrever através do site da ABRARTE ( Associação Brasileira de Artistas Espíritas):

Não deixem de participar!!!



VIII Mostra Espírita de Dança
Criação: Sou criador, sou criatura

10, 11 e 12 de Outubro

Local : Instituto de Difusão Espírita
Araras/São Paulo






06 agosto 2009

Dança: Vibração da Alma


A dança é a vibração da alma que a arte impulsiona sobremaneira.
O corpo é repositório de nossas experiências mantidas nos séculos de nossas existências.
Em cada uma delas, nos despojamos deixando ao solo o acúmulo e o desgaste de nossas energias somáticas. No entanto, levamos conosco em maior profundidade a cada vez, o resultado e o acúmulo das energias, sentimentos e emoções em nosso perispírito: Nosso corpo luminoso, energético e mais sutil. É ele a ligação do ser que somos com o ser que estamos.
A arte, sutilizada e espiritualizada, que eleva-se às esferas em busca da beleza e da divindade, emana e detém as energias através deste veículo: o corpo perispiritual.
A dança, presente nas demais artes e mãe destas todas, é importante veículo de manipulação fluídica e espiritual, deixada ao largo porque ao se definir no ser, em seus contornos e desenhos primários, reflete em maior amplitude o grau evolutivo deste mesmo ser.
A humanidade, embora haja evoluído muito em referência ao seu ponto de partida, muito distante ainda se encontra do seu ponto de chegada.
É-nos mais fácil responder ao que conhecemos. E mais perto ainda nos encontramos das tribos arcaicas que da angelitude.
Nosso corpo fluídico guarda em si os sons dos tambores que buscavam as chuvas, dos chocalhos que cantavam para os ventos e dos batedores que buscavam o deus da força, o deus da natureza.
Gravados neste veículo menos grosseiro, estão os cânticos ritualizados e unicórdios das sociedades primitivas e a eles respondemos como às lembranças carinhosas de nossa infância.
Quando o homem houver desligado-se das imagens e sensações terrenas, através do intercâmbio e das visões do mundo espiritual, das esferas onde a alegria, a harmonia e a paz reinam, refletirá em seu corpo espiritual e este imprimirá no soma as energias divinas e harmônicas do universo.
A dança será então, como já o é em esferas sutilizadas, um cântico de louvação fisicalizada em luzes e formas, emitindo irradiação salutares e terapêuticas, unindo almas em sintonia com os benfeitores e elevando o ser ainda mais a planos de sutilíssimas harmonias.
A arte que plasma no homem a harmonia divina, ainda não foi por ele descoberta em sua real utilidade.
Ainda há pouco iniciou-se a busca da espiritualização da arte. Esta é sim, reflexo do homem hodierno, que ainda busca, qual náufrago em desespero, o prumo e o centro de suas aspirações. Suas inquietações ainda o perturbam e desarranjam sem que lhes traga a felicidade.
Arte e homem caminham juntos por serem tão somente uma única e mesma coisa.
A arte é o elemento divino do homem, sua emoção, sua aspiração, seu ideal, deveria ser-lhe alavanca a Deus. E o será quando ele, o homem, melhorando-se, melhorá-la, elevando-se, elevá-la e divinizando-se, divinizá-la.

Ariel ( Espírito) - Denize de Lucena ( médium)

24 janeiro de 2003.

Aos Artistas


Os artistas somos médiuns da beleza, cultivemos pois em nós a abnegação e a humildade, filtros indispensáveis para que sejamos instrumentos úteis, das mãos divinas do Artista Maior.
Eis que depositou em nossas mãos os pigmentos e os planos para que viéssemos a lapidar o homem em nós e o homem-irmão instituído em cada um que compartilha de nossa jornada.
É esse o nosso compromisso: o de levar ao homem hodierno a lembrança do Divino Pai, Deus de amor, Deus da Beleza, Deus da Glorificação, que esquecemos nos séculos anteriores, emoldurando-O nos altares de pedras preciosas e de aurífero metal, levando às fogueiras e masmorras da intolerância e do desmando em Seu Santo Nome, preciosos irmãos, emissários por Ele enviados, como na Parábola do Festim das Bodas, porque assim seria e haveria de ser, para que se cumprissem as palavras do Cristo, e porque Este, pastor cuidadoso, muito bem conhecia seu rebanho, chegando mesmo a profetizar seus passos, antecipando suas perdições e colocando-lhes nos caminhos homens e ações que os alertassem e os avisassem buscando fazê-los retroceder.
Assim, busquemos também no exercício do nosso dia, através dos talentos da Arte e da Mediunidade, encontrar estes mensageiros, estes avisos, estes alertas a nos mostrarem os caminhos da perdição e nos conduzirem para distante dali.
Busquemos em cada uma de nossas ações a possibilidade de exercer esta função que Deus nos outorgou: levemos a Beleza, levemos a paz, aprendamos e ensinemos com este exercício, edificando e construindo, desta vez de forma correta, com a nossa arte, o caminho traçado pelo Cristo.
Sim, amigos, muitos de nós não recebemos pela primeira vez os dons da arte ou mesmo da mediunidade. Mas a maioria de nós é verdade, as usamos de maneira reproxável. Reunidos, suplicamos nova oportunidade.
Hei-nos aqui. Pois que saibamos fazer desta uma oportunidade valiosa e uma realização verdadeira para que possamos reiniciar o caminho adrede desviado.
Quem fomos, não mais importa, se nossos nomes foram reconhecidos e se merecemos aplausos e longas notas na imprensa, tudo isto de nada nos serviu, ao adentrarmos o pórtico da morte. E muitos de nós, na verdade, se viu despido, sem maquiagem, sem figurino e principalmente sem as luzes da ribalta e sem os aplausos de outros, para reconhecer-se falido, vil e devedor.
Agora, recomecemos, fortifiquemo-nos, seguindo adiante. Pois é o presente que conta e o futuro nos aparece em rasgos de esperanças.
Coloquemo-nos em marcha pois.
Pela Paz, através da Arte e pelo exemplo de Jesus, para a glorificação do Reino de Deus na Terra.
Adolfo ( Espírito ) - Denize de Lucena ( Médium)
13 de agosto de 2002


PSICOGRAFIA REALIZADA NA REUNIÃO DE ESTUDO DA MEDIUNIDADE

31 maio 2009

A SENSIBILIZAÇÃO DOS SENTIDOS

“O gesto em si nada significa, seu valor reside no sentimento que o inspira, e a dança jamais terá validade, se não tiver calcada em movimentos e emoções humanas”.
(FAHLBUSCH, 1990, p. 35).
Estar constantemente sendo estimulados pelo meio e sofrendo alterações no equilíbrio global, faz com que essa inter-relação do sujeito com o espaço em que vive, exija uma auto-avaliação de seu estado físico e emocional, sendo assim como propõe as questões citadas por Angel Vianna e Jacyan Castilho in GARCIA (2002, p-p. 17-18):

“Responda sinceramente: qual é a primeira coisa que você faz quando chega em casa, após um dia de trabalho (ou mesmo de lazer)? Tira os sapatos e os joga num canto? Desabotoa a fivela do cinto? Troca a roupa suada? Corre pra tomar um gole d’água? Ou deixa a bolsa/pasta num canto, liga a TV e se atira no sofá? Ou ainda lava as mãos do rosto, quem sabe?
É bem provável que você, mesmo não perceba, cumpra algum desses rituais ou outro
qualquer. Seja o que for, pode apostar: a cada vez que você volta para casa, faz alguma
coisa para se pôr à vontade, para estar em casa.. Ou alguém fica de terno e gravata num domingo?!
Pois saiba, caso você nunca tenha pensado nisso, que a sua primeira casa, a que você tem desde que nasceu, muito antes de morar em qualquer outro lugar, é o seu corpo. Uma casa que é só sua, ocupada só por você, da maneira que você bem entende (ou
pode). Você se sente à vontade no seu corpo-casa”?


Observa-se que a Conscientização Corporal, numa relação menos formal e mais livre do movimento, interage e permite que a pessoa renove suas energias já para um maior equilíbrio emocional, além de manter uma harmonia com todo seu entorno.
Em Teatro do Movimento, LOBO (2003, p.61) faz uma reflexão sobre o corpo e nos diz:

“No corpo, circula um fluxo energético, responsável pela presença de algo que transcende a sua materialidade e que chamamos de energia vital. Quando um fluxo energético por qualquer que seja o motivo, fica estagnado em determinados pontos do corpo, prejudica o bom funcionamento do todo, gerando queda de energia, bloqueios emocionais e tensões físicas, que provocam limites nas habilidades corporais e posteriormente causando doenças”.

Sabe-se também que a tensão não é de todo um problema, pois necessitamos dela para nos mantermos em movimento. Porém, o acúmulo de tensão em determinada parte ou articulação do corpo é que vai interromper a fluência da energia, limitando a flexibilidade das articulações, tornando os músculos mais rígidos e criando anéis de tensão. Para BERTAZZO, (1998, p.15): “... o conceito de organização motora pede distribuição do tônus, e não relaxamento. Para ficarmos em pé é necessária uma justa organização muscular”. A própria palavra Dança em todas as línguas européias – danza, dance, tanz, deriva da raiz tan que, em sânscrito significa “tensão”. Para GARAUDY (1980, p.14) “Dançar é vivenciar e exprimir, com o máximo de intensidade, a relação do homem com a natureza, com a sociedade, com o futuro e com seus deuses”.
Complementando o que vem sendo abordado, pode-se afirmar que o corpo é o veículo pelo qual nos expressamos e é através do movimento corporal que as pessoas se comunicam, se interagem, sentem tudo que está a sua volta e essas sensações são percebidas.
Vivemos numa sociedade em que o movimento corporal expressivo não faz parte dos padrões educacionais, assim como FUX (1983, p.93) chama a atenção para o fato de que:

“Quando somos crianças necessitamos mover-nos porque movendo-nos expressamos nossa vontade de rir, de chorar ou de brincar. À medida que crescemos nosso corpo passa pelos tabus de uma civilização que corrompe nossa necessidade de expressão, perde cada vez mais o desejo de mobilização”.


Grande parte dos problemas vivenciados no dia-a-dia é interiorizado deixando registros no nosso corpo. Não só o corpo é afetado, como também o processo emocional, intelectual e os reflexos sofrem esta pressão. Inclusive os bloqueios emocionais acabam interferindo até mesmo na respiração, sem que se percebam os movimentos do cotidiano quase que compulsivamente numa espécie de automatização gestual. Alguns movimentos como: pegar um objeto, se abaixar ou mesmo levantar da cama necessitam de uma organização muscular, organização esta que precisa ser respeitada. BERTAZZO (1998, p.16) nos diz que “... devemos respeitar os biótipos, a reconhecer que determinações genéticas, ação do meio ambiente, educação, influências socioculturais, atitudes de trabalho, traumas de percurso etc, interferem na construção e funcionamento do nosso corpo”.
Nesse sentido, pode-se dizer que cada pessoa é formada de acordo com os estímulos que recebem ao longo de sua existência. Vivências prazerosas contribuem para novas descobertas gerando impulsos positivos que leva o sujeito a autopercepção. “A partir dessa consciência interna do movimento que poderemos então conceitualizar o espaço exterior e estabelecer relação com ele e com objetos e seres que nos rodeiam” (IBDEM, p.23). Desta forma trabalha-se com diversas formas de experimentação, estimulando os sentidos gerando sensações que fortalecem o indivíduo em sua aceitação dentro de uma sociedade produtora de estereótipos físico-corporais em que os valores externos se sobrepõem aos valores morais e éticos.
É importante trabalhar a aceitação do sujeito em relação a seu próprio corpo e a toda sua capacidade criativa, respeitando as relações interpessoais. É neste momento que a dança assume uma importância benéfica no resgate da auto-estima para desenvolver uma maior relação com o seu meio. É muito comum a pessoa rejeitar tocar e ser tocada numa aula ou atividade corporal, onde o expressar-se coletivo exige uma maior relação inter-pessoal. Então, torna-se necessário ampliar os sentidos do corpo, proporcionando maior qualidade nas explorações sensoriais.
Experimentar o prazer do movimento criativo com sensibilidade proporciona benefícios de forma global ao indivíduo. Desta forma, percebe-se que cada atividade pragmática adquire uma nova qualidade na sua forma de manifestação, como no dormir, no acordar e nas demais tarefas do dia-a-dia. Inclusive, LABAN (1978, p.38), reforça a possibilidade de trabalhar com a pessoa, acreditando na sua predisposição evolutiva em relação ao movimento corporal, quando diz que:
“O homem tem a capacidade de compreender a natureza das qualidades e de reconhecer os ritmos e as estruturas de suas seqüências. Tem a possibilidade e a vantagem do treinamento consciente, que lhe permite alterar e enriquecer seus hábitos de esforço até mesmo sob condições externas desfavoráveis”..
Utilizamos primeiramente como estímulos de nossas aulas de conscientização corporal, as dinâmicas de grupo, e podemos observar nessas atividades que os alunos se libertam do seu individualismo, relacionando-se uns com os outros, proporcionando desta forma a integração do grupo e maior desenvolvimento nos trabalhos que serão propostos.
Segundo FRITZEN (2000, p.08):
Exercícios procuram despertar nas pessoas o sentido da solidariedade, adormecidos pelo individualismo e pelo egoísmo. Outros, ainda, buscam mais diretamente uma colaboração efetiva, afastando a frieza, o indiferentismo, a agressividade, o desejo de dominação, o tratamento da pessoa como objeto. Aparecem ainda exercícios que provocam um “insight” pessoal. Apresentam a pessoa como ela é realmente, com suas limitações, deficiências, habilidades, tendências positivas e negativas. Há, enfim, jogos que demonstram maturidade grupal, o grau de abertura de harmonia, e o ambiente de amizade, de sinceridade, de confiança e colaboração.

Para complementar, consideramos importante o enfoque dado por MIRANDA (2000, p-p.13-14), valorizando a dinâmica de grupo na descoberta de si mesmo e do outro, proporcionando uma ação motivadora dentro da educação:
A dinâmica de grupos proporciona aprendizagens diversas aos membros do grupo, tanto no sentido da vivência pessoal (autoconhecimento), como na interpessoal (percepção do outro). (...) A educação com John Dewey, que vislumbrou o preparo dos alunos para a vida social, rompendo com a absoluta tradição de transmissão de conhecimentos e fundando a concepção de professor como líder de um grupo, que influi na aprendizagem, não apenas pelo domínio teórico, mas também pela habilidade de motivar os alunos, estimular a participação e criar entusiasmo.

É desta forma que se constrói uma identidade consciente de suas ações diante do mundo, em relação com o outro para uma melhor qualidade de vida dentro da sociedade atual.


BIBLIOGRAFIA:
BERTAZZO, Ivaldo. Cidadão Corpo: identidade e autonomia do movimento. São Paulo: Summus, 1998.
FAHLBUSCH, Hannelore. Dança Moderna e Contemporânea. Rio de Janeiro: Sprint, 1990.
FRITZEN, Silvino José. Exercícios Práticos de Dinâmica de Grupo. Petrópolis: Ed. Vozes, 2000.
FUX, Maria. Dança, experiência de vida. São Paulo: Summus, 1983.
GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
GARCIA, Regina Leite (org). O corpo que fala dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento. São Paulo: Summus, 1978.
---------------------.Dança Educativa Moderna. São Paulo. Ícone, 1990.
LOBO, Lenora. Teatro do Movimento: Um método para um intérprete criador. Brasília:LGE, 2003.
MIRANDA, Simão de. Oficina de dinâmica de grupos para empresas, escolas e grupos comunitários. Campinas: Papirus, 2000.

TÉCNICA E MENSAGEM NA DANÇA ESPÍRITA: A BUSCA DO EQUILÍBRIO PERFEITO

Daniela L. Pereira Soares
almanova@ig.com.br


CONSIDERAÇÕES INICIAIS

“A arte não pertence a país algum, veio do Céu.”
Miguel Ângelo

Antes de iniciar nossa reflexão, é importante conversar sobre alguns termos que serão usados ao longo do texto, evitando assim, alguns equívocos acerca do entendimento dos mesmos. O próprio termo “dança espírita”, para algumas pessoas não soa bem, preferem usar “dança com temática espírita”, outras ainda, preferem usar apenas “dança”. Diferentes pontos de vista, que se postos em questão, todos teriam sua parcela de razão. Aqui, será usado o termo “dança espírita”, pois em poucas palavras ele se aplica a uma parcela restrita de pessoas que fazem esse tipo de dança, em determinado local e com uma finalidade específica. Aqui nos referimos a grupos de pessoas que entendemos são espíritas, ou seja, acreditam, vivenciam as idéias e crenças espíritas e fazem um diálogo desses conhecimentos com a dança. Já quando se fala “dança com temática espírita”, não se torna claro que esteja se referindo a um grupo espírita, pois como existem grupos teatrais que encenam peças, novelas, filmes que abordam temas espíritas sem serem necessariamente espíritas, nada impede que um grupo de dança como o Grupo Corpo[1] ou o Ballet Stagium[2] dance uma coreografia voltada a temas espíritas sem necessariamente serem espíritas. Isso também leva a pensar, que quando se fala em “dança espírita” não está se referindo apenas à temática do ballet[3] ou coreografia, mas aos objetivos e as finalidades que orientam o grupo de pessoas que o fazem.
Outro ponto a salientar é em relação ao pensamento de que um dia haverá uma “arte espírita”, como um dia houve a arte pagã e a arte cristã e dentro disto podemos inserir a dança. Neste contexto citamos alguns trechos do livro Arte e Espiritismo organizado por Renato Zanola, onde ele faz transcrições da Revista Espírita (1860), no qual baseamos nossa fala anterior:

“A Pintura, a Escultura, a Arquitetura e a Poesia inspiraram-se sucessivamente nas idéias pagãs e nas cristãs. Podeis dizer se, depois da Arte cristã, haverá um dia, uma Arte espírita? O Espírito respondeu: - Fazei uma pergunta respondida por si mesma. O verme é verme; torna-se bicho da seda; depois, borboleta. Que há de mais aéreo, de mais gracioso do que uma borboleta? Então! A Arte pagã é o verme; a Arte cristã é casulo; a Arte espírita será a borboleta”. (Zanola, 1997, p.17)

“ Quando dizemos que a Arte espírita será um dia uma Arte nova, queremos dizer que as idéias e as crenças espíritas darão às produções do gênio um cunho particular, como ocorreu com as idéias e crenças cristãs e não que os assuntos cristãos caiam em descrédito; longe disto; mas , quando um campo está respigado, o ceifador vai colher alhures, e colherá abundantemente no campo do Espiritismo. E já o fez, sem dúvida, mas não de maneira tão especial quanto o fará mais tarde, quando for encorajado e excitado pelo assentimento geral. Quando estas idéias estiverem popularizadas, o que não pode tardar, pois os cegos da geração atual diariamente desaparecem da cena, por força das coisas, a geração nova terá menos preconceitos... Tempo virá em que elas farão surgir obras magistrais, e a Arte espírita terá os seus Rafael e seus Miguel Ângelo, como a Arte pagã teve os seus Apeles e os seus Fídias.” ( Zanola, 1997, p.25)


Acredita-se que esse movimento de renovação nas artes já está começando e não é propriedade exclusiva dos espíritas. Colocando o foco estritamente na dança, nota-se ela despontando em diferentes linhas religiosas, e independente da crença, do pensamento que os diferentes cultos lhe imprimem e se refletem na forma de fazer e pensar a dança, já se pode ver alguns pontos comuns entre elas, um deles chama a atenção – a reforma íntima.
Dança é dança, independente de ser feita numa academia, numa praça ou num centro espírita e, não é propriedade de nenhum grupo étnico, ou religioso, senão da própria humanidade. Apesar dos rótulos que se possa querer utilizar, nenhum deles modifica o que seja dança, independente do estilo, do modo de se fazer ou se teorizar dança, no entanto, às vezes eles se fazem necessários para que se possa delimitar um grupo com a finalidade de analisar suas práticas.

TÉCNICA NA DANÇA ESPÍRITA

“Eu não danço, eu sou a dança.”
Klauss Vianna

Dentro da história da dança a partir do pensamento de BOURCIER (2001), é na Itália, no Quatrocentos, que pela primeira vez se pensou na necessidade da técnica em dança. A dança que era uma expressão corporal realizada relativamente livre até então, passa a tomar consciência das possiblidades de expressão estética do corpo humano e da utilidade das regras para explorá-lo.
Mas o que é técnica afinal? Segundo o dicionário virtual Wikipédia:

“Técnica é o procedimento ou o conjunto de procedimentos que têm como objetivo obter um determinado resultado, seja no campo da Ciência, da Tecnologia, das Artes ou em outra atividade. A palavra se origina do grego techné cuja tradução é arte.”

Trazendo isso para o universo da dança, conforme DANTAS (1999), a técnica é uma maneira de realizar os movimentos, organizando-os segundo as intenções formativas de quem dança. Ela está presente tanto nos processos de criação coreográfica quanto nos processos de aprendizagem, passando a ser um modo de informar o corpo e, ao mesmo tempo, de facilitar o manifestar da dança no corpo, ou seja, tornar o corpo que dança ainda mais dançante. A técnica torna o bailarino apto a manifestar-se em determinado código.
Mas será que a técnica é realmente necessária em um grupo espírita de dança? A técnica não seria dispensável, já que os objetivos dos grupos não repousam na formação de bailarinos profissionais, nem na realização de exibições virtuosas?
Pensando a técnica como um fim em si mesma, como um treino mecânico que nos leva a girar, a saltar somente, seria fácil chegar a conclusão que ela não é tão necessária, no entanto, pensando a dança como uma linguagem e a técnica como uma forma de manifestação dessa linguagem, talvez seria algo a ser pensado.
Da mesma forma que o músico espírita faz uso das notas musicais, dos acordes, de técnicas específicas para compor suas canções, fazendo uso de um instrumento afinado para se expressar, o bailarino também carece de um repertório de movimentos e de um instrumento (corpo) capacitado para externá-los.

“Como o poeta deve, cada vez mais, conhecer e dominar o seu idioma para ter maior capacidade de expressar as suas idéias sem restrições, o dançarino deve dominar a técnica do movimento para aumentar seu vocabulário corporal e o coreógrafo precisa conhecer os princípios do movimento para enriquecer seu material principal de trabalho – o movimento. Porém, sem deixar que esta classificação se torne inibidora da espontaneidade interpretativa e criativa”. ( Robatto,1994, p.110)

Quanto maior o aprimoramento do bailarino, mais natural a dança se torna em seu corpo, permitindo que a mensagem que ele queira transmitir através do movimento, flua livremente e atinja mais vivazmente o espectador. Dessa maneira, a técnica não entra como o ponto principal do fazer dança, mas sim como um meio facilitador à expressividade do movimento.
O conhecimento e aplicação da técnica da dança nos grupos espíritas, além de favorecer uma maior consciência corporal e do movimento, ampliando suas possibilidades de expressão coreográficas, ajuda na prevenção de possíveis lesões que a prática incorreta pode levar a termo. Oferecerá também base segura para que o coordenador do grupo ou o responsável pelo treinamento técnico possa realizar seu trabalho de maneira correta e honesta, respeitando o corpo em formação de crianças e adolescentes sob sua responsabilidade.
Assim como o evangelizador busca apoio no conhecimento científico para entender a educação e, dessa forma ampliar suas ações na seara espírita; nada há de errado em se buscar o conhecimento teórico e prático da dança, desde que, o trabalho no grupo espírita de arte não se encerre na técnica, mas que alicerçado em Kardec e na vasta literatura espírita, descortine o que está além dela, e se desdobre em auto-conhecimento, melhoria interior, caridade e esperança dentro e fora da casa espírita.


A MENSAGEM ESPÍRITA NA DANÇA

“ O espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites.”
Léon Denis

O que caracteriza um grupo como “grupo espírita de dança” não é apenas a mensagem espírita expressa em suas coreografias, pois como se refletiu no início desse artigo, qualquer grupo profissional ou amador pode fazer isso, independente de ser espírita ou não. Todavia, cabe a nós o papel de o fazê-lo, implícita ou explicitamente, pois se nós que somos bailarinos e coreógrafos espíritas não falarmos de temas espíritas em nossas coreografias, quem falará por nós?
Essa frase, bastante conhecida entre os bailarinos espíritas, me tocou profundamente num momento crucial dentro do grupo espírita de dança[4] em que eu atuava. Naquele momento a dúvida me assombrava. Nosso grupo sempre se caracterizou pela criação de ballets onde a temática espírita era bem declarada e comecei a me questionar sobre esse nosso posicionamento. Será que o caminho que estávamos seguindo era correto? Será que precisávamos ser tão diretos?
Comentando essa questão com uma colega das lides espíritas, ela me disse essa frase, que me marcou pra vida toda. Essas palavras passaram a me conduzir com segurança dentro da dança espírita. Esta colega, nem sabe que é autora dessa frase, nem o quanto ela representou pra mim, nem para os grupos que posteriormente dirigi, mas ela me deu um caminho, que ajudou traçar a história de vários grupos espíritas de dança.
Independente do caminho que cada grupo escolha para se guiar, o conteúdo espírita-cristão é compromisso intransferível, seja na vivência diária ou refletido nas coreografias que são criadas.

“ Sim, certamente, o Espiritismo abre à arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado, e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.” ( Kardec in: Obras Póstumas, 1995, p. 157)



“Os artistas da Terra deverão inspirar-se nesses modelos sobre-humanos que os ensinamentos espírita lhes tornarão familiares. A Educação estética humana comporta concepções cada vez mais elevadas a fim de que o sentimento do belo penetre e desenvolva-se em todas as almas. Uma evolução já se produz nesse sentido, e ela se acentuará sob a influência do Além. (Dennis,1994, p.15)

Vale ressaltar a responsabilidade perante tarefa tão importante e delicada, a de transmitir o conteúdo sem mácula. A fidelidade quanto a conteúdo doutrinário deverá ser alicerçada no estudo e na vivência do Evangelho do Cristo. Como asseverou-nos o Espírito de Verdade, no capítulo VI do Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo.”
Não há como transformar em dança um conteúdo que se desconhece. O estudo da doutrina espírita é parte essencial da criação coreográfica, na dança espírita, sem o qual ela corre o risco de tornar-se vazia e perde seu papel transformador.

“ O Espírito não pode se identificar senão com aquilo que sabe, ou que crê ser uma verdade, essa verdade, mesmo moral, torna-se para ele uma realidade que exprime tanto melhor quanto a sente melhor; e então, se à inteligência ele junta a a flexibilidade do talento, faz passar as suas próprias impressões nas almas dos outros; quais impressões, contudo, pode provocar aquele que não as tem? (Kardec in: Obras Póstumas, 1995, p.153)

Voltando o olhar para o processo de criação coreográfica no qual a mensagem torna-se peça central, vemo-la muitas vezes perdida em meio a movimentos mecânicos e desprovidos de significado, muitas vezes, sem que aqueles que o fazem tenham consciência disso. Isso acontece no âmbito da dança em geral, pela própria formação técnica que o bailarino é submetido, numa perspectiva dualista que insiste em separar corpo e mente, cujas raízes filosóficas remontam a Idade Média.[5]
ROBATTO (1994) afirma que tradicionalmente o bailarino só é trabalhado no seu aspecto técnico-corporal, ficando geralmente relegada a um segundo plano sua formação técnica no que se refere a expressividade do movimento e à interpretação coreográfica. Isso acontece porque os exercícios técnicos de condicionamento físico, por vezes, são tão massacrantes que não levam em consideração a expressividade. Porém, não se pode trabalhar o próprio corpo, depositário de toda uma vivência espiritual, mental, afetiva, sensorial, etc.,considerando-se apenas os objetivos técnicos quantitativos, dirigidos para se tentar alcançar novos records de capacidade física. É preciso saber lidar com a indispensável disciplina técnica, sem bloquear a sensibilidade e a imaginação do bailarino.
Vale lembrar que o papel do coreógrafo é fundamental no sentido de transmitir aos bailarinos a intenção do movimento, ou buscar junto com os mesmos através de uma vivência mais significativa, movimentos que expressem melhor o pensamento coreográfico; pensamento este, embasado no estudo e nas reflexões de todo o grupo envolvido na montagem.
Toda obra artística é passível de diferentes interpretações, no entanto, é importante tornar clara a mensagem que se queira transmitir. Neste aspecto, a auto-crítica e o olhar de outras pessoas antes da finalização da obra é fundamental para que ela seja repensada e que para que a melhoria seja buscada. Nada tão desanimador, quanto ouvir ao final de uma apresentação: O que você quis dizer com aquela coreografia?
A mensagem espírita na dança é compromisso sério que exige, estudo, comprometimento e criatividade do artista espírita. Que ela esteja presente em nossas coregrafias com a seriedade e o respeito que ela merece, mas que antes disso, ela brilhe em nossos atos e atitudes, através das coreografias que criamos em nossa vivência diária e que oferecemos ao Pai cotidianamente.


REFORMA INTIMA: O ELEMENTO INDISPENSÁVEL


A mensagem espírita é um dos aspectos que caracteriza um grupo espírita de dança, principalmente aquela que é que vivenciada e transmitida pelo exemplo. Nas coreografias, a técnica conferirá material adequado para que ela se construa, o estudo das obras básicas será o alicerce, mas somente a sintonia com as esferas superiores, através do esforço por melhorar-se é que produzirá a vibração que arrebatará quem assiste.

“O sentimento é foco gerador de energia emuladora, que, qual dínamo gerador de vibrações superiores, atingirá o coração, o sentimento, estimulando as qualidades superiores dos que estão em seu raio de influência, levando-os a seguir o exemplo, a imitar, não mecanicamente, mas atraído pela força emuladora que emana do próprio coração.” ( Alves, 1997, p. 155)

Daí o compromisso maior do fazer dança espírita, acender a luz que nos é própria para que a Luz do Cristo resplandeça em nossas obras.

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Estai em mim, e eu em vós: como a vara de mim mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.
Eu sou a videira, vós as varas: quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.” (Bíblia, João, 15:4,5,10)

Segundo ALVES (2000), a arte não é apenas uma forma de expressão, mas acima de tudo, uma forma de crescimento interior, de desenvolvimento das potências da alma. Quando direcionada aos canais superiores da vida, auxilia o Espírito a vibrar em sintonia mais elevada, afinando seus sentimentos estéticos com vibrações sutis, com o amor que se amplia e se expande ao infinito.
A reforma íntima se reveste de caráter fundamental num grupo espírita de dança, pois que forças, que luzes, que consolações, que esperanças podemos passar às outras almas se não temos em nós próprios senão obscuridade, dúvida, incerteza e fraqueza ? Será também nosso elemento de ligação com a espiritualidade maior, atraindo a companhia dos bons espíritos, fazendo-nos crescer e dando às nossas criações um caráter que ultrapassa o visível, o palpável, o sensorial, mas antes de tudo, um misterioso encanto, que atrai e convida a transformação de dentro pra fora.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


A arte se reveste de nuances sensíveis e profundas, que em sua maioria ainda não conseguimos apreender, a medida que vamos evoluindo, crescendo espiritualmente, vamos tomando contato gradualmente com a fonte da qual ela emana.
A arte é tarefa importante na casa espírita e se reveste da mesma importância que as demais atividades. O estudo, o trabalho sério e desejo sincero por querer melhorar-se são a base segura para que o trabalho se desenvolva com êxito.
Concluindo as reflexões acerca da técnica e da mensagem na dança espírita, penso que a mensagem espírita é o tesouro que se oferece quando se dança, mas a sua força maior não está no roteiro coreográfico que se prega, nem no virtuosismo técnico adquirido, mas repousa sem dúvida na transformação moral que já se alcançou.
Que as criações coreográficas que são feitas nos grupos espíritas de dança se sedimentem não apenas na boa vontade de fazer e servir, mas que busquem apoio no estudo da doutrina, nas técnicas da dança e na vivência do amor e da caridade. Com toda a certeza a mensagem ficará comprometida se houver carência técnica, o mesmo podemos asseverar da falta de conhecimento doutrinário, mas a ausência do ideal superior comprometerá ainda mais, pois será como uma música que toca por um instante e depois desaparece, sem produzir eco algum nos recônditos da alma.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Walter Oliveira. Educação do Espírito: Introdução à Pedagogia Espírita. 1ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita,1997.

ALVES, Walter Oliveira. Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita: Teoria e Prática. 1ª edição. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 2000.

BOUCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

DANTAS, M. Dança: o enigma do movimento. Porto Alegre: Editora UniverCidade/UFRGS, 1999.

DENNIS, Leon. O Espiritismo na arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Publicações Lachâtre, 1994.

KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 3ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1995.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 182ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1978.

KATZ, H. Entre a Heresia e a Superstição. In: São Paulo. SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA, CENTRO CULTURAL SÃO PAUL. Navegar é Preciso: Portugal – Brasil: problemas estruturais e similaridades conceituais na dança de Brasil e Portugal. São Paulo, 1998 p. 7-16

ROBATTO, L. Dança em Processo: a linguagem do indizível. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1994.

ROCHA, Ruth. Minidicionário. São Paulo: Scipione, 1995.

VIANNA, Klauss. A Dança.2ª ed. São Paulo: Siciliano, 1990.

ZANOLA, Renato. Arte e Espiritismo: Textos de Allan Kardec, André Luiz e Outros Autores. 2ª ed. Rio de Janeiro: Edições CELD, 1997

Ballet Stagium - artigo disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ballet_Stagium

Grupo Corpo - artigo disponível em :
http://www.grupocorpo.com.br/pt/historico.php

Técnica – artigo disponível em :
http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A9cnica




[1] Referência à companhia mineira de dança contemporânea de renome internacional, criada em 1975 em Belo Horizonte pelos irmãos Pederneiras.
[2] Referência a Companhia de balé brasileira, criada em 1970, em pleno regime militar, sediada em São Paulo. O Ballet Stagium é coordenado por Marika Gidali e Décio Otero e já conta em sua história com mais de 80 coreografias no decorrer desses mais de 30 anos.

[3] Conjunto de coreografias que versam sobre um tema ou contam uma história usando a dança como linguagem.
[4] Referência ao Grupo Espírita de Dança Evolução, criado em 1995 em Araras/São Paulo e atuante até hoje.
[5] Ao final da Idade Média, de acordo com KATZ ( 1998), fazia-se necessário acreditar no dualismo corpo-mente, pois só assim seria permitido estudar o corpo anatomicamente, sem ir de encontro às normas religiosas da época. O corpo passa, então, a ser visto como um objeto de observação e de estudo, separado da alma – pura e intacta aos pecados deste corpo. A possibilidade do homem tornar-se um observador do mundo, separado dele, motor do nascimento da perspectiva linear, gesta a ciência clássica.

DANÇA CONTEMPORÂNEA E ESPIRITISMO:CAMINHOS PARA O CONHECIMENTO

“A dança é um ato litúrgico do cosmo quando parteja. O que nasce, dança. O que vive, dança.
E o que
morre permuta outro campo de movimento ... inicia novo círculo de expressão com nova significação!”

(Espírito Ananda, 2003- Casa de Oração Fé e Amor)

Gostaria de compartilhar neste texto conceitos que, acredito, aproximam a linguagem da dança contemporânea e o Espiritismo. Portanto, achei conveniente relatar um pouco da minha trajetória pessoal entre estes dois universos, a fim de que, possamos entender de onde surgiram estes possíveis diálogos e juntos busquemos outras proximidades.
Sou bailarina e espírita. Atuo como coreógrafa, professora e pesquisadora de dança contemporânea. Graduada pela Universidade Estadual de Campinas e especialista em estudos contemporâneos da dança pela Universidade Federal da Bahia, em parceria com a Faculdade Angel Vianna, no Rio de Janeiro. Integro o Grupo das Excaravelhas de dança contemporânea em Campinas. Escolhi trabalhar como arte-educadora ou artista-docente como define [1]Isabel Marques.
Há mais ou menos sete anos tornei-me adepta do Espiritismo, o que causou – me uma significativa transformação no meu modo de perceber e conceber a vida. A Doutrina Espírita revelou-me a riqueza do evangelho de Jesus através do conhecimento amplo que Ele possui sobre o amor e o amar. A Doutrina Espírita me revelou ainda, na sua filosofia, a crença na vida após a morte, a possibilidade de comunicação entre encarnados e desencarnados e a reencarnação.
O maior aprendizado que obtenho na Doutrina Espírita é exatamente que todos nós um dia encontraremos a Deus e que para isso é necessário que superemos as nossas imperfeições representadas no Espiritismo pelo tripé da: vaidade, do orgulho e do egoísmo. Mas, como superar as nossas imperfeições? Conhecendo-nos a nos mesmos. Esta é a grande chave que nos é ofertada pelo Espiritismo.
Durante todos estes anos de atuação com a dança e por tanto com a arte, venho justamente procurando compreender de que maneira a dança me ajuda a construir conhecimento sobre o mundo e sobre mim mesma. Tive oportunidade de me apropriar de algumas técnicas da dança moderna e de algumas linguagens de danças brasileiras, passando pela capoeira, congos, maculelê, samba - de – roda e outras manifestações da cultura popular brasileira.
No entanto, foi na dança contemporânea que encontrei sentido para prosseguir construindo conhecimento. O motivo maior desta escolha está relacionado aos princípios históricos a que ela se atrela.
Na década de 60, período em que a dança contemporânea efervescia nos Estados Unidos, o palco italiano deixava de ser o lugar exclusivo da dança, que passa a invadir os espaços públicos. Coincidentemente foi em uma igreja em Nova York, a Judson Memorial Church, que um grupo de bailarinos realizou uma variedade de experimentações, questionando o que poderia ser nomeado como dança e em quais espaços essa arte poderia ocupar e se expor. (Salles, 2006)
A proposta era encurtar as distâncias entre artista e público, tanto através dos espaços ocupados, como através da movimentação utilizada nas criações, nas quais foram introduzidas gestuais comuns ao cotidiano popular. Outra possibilidade aberta nesta proposta foi o diálogo entre diferentes estilos de dança e práticas corporais, buscando encontrar nas diferenças as congruências de sentidos e significados.
Este pensamento ideológico possibilitou uma diversificação da linguagem da dança, no sentido em que ela pôde acolher diferentes meios de manifestação pelo movimento. Caem por terra verdades absolutas de corpos específicos adequados à dança, de artistas superiores a espectadores, de apenas uma forma de dança adequada a simbolizar, leveza, tristezas, amores, morte, assim como, a idéia de que a dança sempre é uma manifestação de alegria e beleza.
As relações e experiências humanas são consideradas pela dança contemporânea como um recurso de criação essencial, pois estas experiências revelam-se nos relacionamentos como um conhecimento sobre o indivíduo e deste sobre o mundo. Uma vez que ela não possui um código de movimentos pré-estabelecido, como encontramos na dança clássica, por exemplo, a dança contemporânea permite ao seu intérprete-criador, elaborar e construir os seus próprios códigos de movimentos, de acordo com o conhecimento e os sentimentos que possui, tanto no aspecto técnico da dança como no aspecto moral. Dançar é sua forma pessoal de interpretar o mundo. É o seu caminho pessoal com Deus.
Ao criarmos e elaborarmos códigos de movimentos, encontrarmos representações na linguagem da dança para nossos sentimentos ou percepções do mundo, consequentemente reelaboramos idéias e conceitos de nós mesmos ou da sociedade na qual estamos inseridos. Além de revermos conceitos, temos a possibilidade de criarmos através da arte, universos imaginários onde a poesia pode substituir a apatia. Ou seja, abrimos espaços para a transformação da nossa realidade.
O ato de criar é portanto, um ato de construção de conhecimento e de transformação do ser humano. Uma vez que para sonhar com um novo homem e uma nova sociedade é preciso primeiramente tomar a consciência do nosso atual estado evolutivo, sabendo que ele é temporário e passageiro e assim, aspirarmos condições mais elevadas.
É justamente neste aspecto que a dança contemporânea e a Doutrina Espírita se aproximam, na minha opinião, partindo do princípio de que expressamos exatamente aquilo que somos e pensamos, mas não estamos presos a estas formas. Deus nos possibilitou a capacidade de modificá-las através do nosso esforço próprio e do nosso aprendizado.
Entretanto todas estas etapas de construção de conhecimento só terão sentidos quando o maior deles for adquirido. A de que Deus rege todas as coisas do universo e que portanto sendo eu parte do universo também sou regida por Deus.
O caminho desta mudança no entanto, é percorrido num tempo indeterminado e em espaços variados onde o Espírito pode habitar. Assim, tal qual na dança, é o movimento, o tempo, o espaço, que estimula o surgimento da beleza, do novo, em detrimento do velho.



Uma vez que, somos Espíritos eternos e que sabemos que a nossa evolução ocorre na terra, assim como em outros planetas, à medida que, nos transformamos vamos modificando também nossos códigos de movimentos e nossas expressões. Vamos modificando as nossas forma de dançar, de representar a nós mesmo e ao mundo. Eis aqui mais um diálogo possível da linguagem da dança contemporânea com o Espiritismo, pois ela representa o estágio evolutivo do nosso Espírito.
Em suma; chegar a Deus no estágio que nos encontramos é um percurso composto de muitas vicissitudes e dos vícios que trazemos desta e de outras encarnações. O processo de criação da dança contemporânea, sob a luz do Espiritismo, nos permite encontrar a beleza apesar das sombras. Ou seja, ela não mascara as nossas imperfeições e as nossas dificuldades, mas ela aponta caminhos por meio da arte do movimento de transformamos esta realidade, em uma nova realidade com Jesus que nos ensina a amar buscando o verdadeiro sentimento de humanidade:
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo
(Mateus 22:37-39)
Dançar perpetua o movimento do eterno e do divino em nós.

[2]Nascer, Morrer, renascer ainda e Progredir sem cessar, tal é a lei
(Allan Kardec)

[3]O que vive, dança. E o que morre permuta outro campo de movimento...inicia novo círculo de expressão com nova significação!”
Bibliografia Utilizada:
ALLAN, K. (1857)- O Livro Dos Espíritos de Estudos-tradução Francisco Maugeri-1ª.edição (2007). Cáritas Editora – Campinas.
ALLAN, Kardec. (1864)- – O Evangelho Segundo O Espiritismo de Estudos -tradução – Francisco Maugeri – 1ª. edição (2004). Cáritas Editora – Campinas.
BANES, S.(1987) Terpsichore in Sneakers. Connecticut, Wesleyan- University Press.
HAY, Débora. Artigo (s/ data) : Comprimentos de Ondas ou Fio Telefônicos? In: DALY, Ann (org). Em que se Transformou a Dança Contemporânea?.
SALLES, Paula. (2006) Dançando o Sagrado na Contemporaneidade. Monografia de conclusão do curso de Especialização em Estudos Contemporâneos de Dança pela UFBA e pela Faculdade Angel Vianna.
Referências Bibliográficas:
BOURCIER, Paul. (1987). História da Dança no Ocidente. Editora Martins Fontes. São Paulo.
In, BREMSER, M. (1999) - Fifty Contemporary Choreographers
Selection and editorial matter-
CORTES, Gustavo Pereira - Dança, Brasil: festas e danças populares
MARQUES, Isabel (1999) – Ensino de Dança Hoje: textos e contextos. São Paulo: Editora Cortez.
GOLBERG, K (s/d). –Performance – Live art since the 60’
PORTINARI, Maribel (1989) –História da Dança – Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira



[1] Profa. Dra. Isabel Marques, fundadora e diretora da Caleidos Cia de Dança. Vide o livro o Ensino da Dança Hoje: textos e contextos. 1999.

[2] Frase escrita no túmulo de Allan Kardec
[3]Vide introdução do texto.

19 maio 2009





VIII MOSTRA ESPÍRITA DE DANÇA "OFICINA DO
ESPÍRITO"

"Criação: Sou Criador, Sou Criatura"

10,11 e 12 de Outubro de 2009
Instituto de Difusão Espírita - Araras/SP

Inscrições de 11 de Junho a 12 de Setembro de 2009
no site da Abrarte - Associação Brasileira de Artistas Espíritas
http://www.abrarte.org.br/


As inscrições para a seleção de interessados no Curso "Dançando com a Alma: O Trabalho do coreógrafo no Grupo Espírita" poderá ser realizada a partir de 11 de Junho também no site da Abrarte. Fiquem atentos!


Ajude-nos a divulgar!

16 março 2009

Como nascem as coreografias?

por Denize de Lucena[1]


(...)42 o corpo é semeado corruptível, mas ressuscita incorruptível; 43 é semeado desprezível, mas ressuscita glorioso; é semeado na fraqueza, mas ressuscita cheio de força; 44 é semeado corpo animal, mas ressuscita corpo espiritual. Se existe um corpo animal, também existe um corpo espiritual (...) (1 Cor: 42 – 44, 1993)

Muito bem.
A mobilização para criação de um grupo de dança na casa espírita, deu certo e já há um bom número de participantes interessados. Há um espaço grande e arejado, autorizado pelos dirigentes que também permitiram o uso do equipamento de som. Foram definidos dia e horário dos encontros e até foi sugerida uma primeira apresentação (se tudo der certo) na abertura da Semana Espírita da Instituição. Agora, é só pôr mãos à obra...
E aí vem a pergunta crucial: Por onde começar?
O trabalho com a dança exige tempo, responsabilidade e comprometimento, como qualquer outro trabalho, aliás, que se pretende sério e duradouro. Ao escolhermos a linguagem da dança como atividade artística, optamos também pelo seu instrumental: o corpo. Nosso corpo é formado de ossos, músculos, articulações e líquidos. Ele é relativamente maleável mas necessita de tempo para conseguir responder às exigências de um trabalho mais técnico e virtuoso.
Existe um bom número de técnicas corporais que podem ser utilizadas para o momento anterior à composição coreográfica. Eugênio Barba[2], teórico do teatro, define este instante de preparação corporal como pré-expressividade. É a parte que permanece durante os ensaio e antes das apresentações, que visa preparar o corpo dos atores-bailarinos para uma melhor execução dos movimentos e desempenho de seus papéis. Os profissionais de educação física e atletas, chamam este instante de aquecimento que, segundo BATISTA (2003):
(...)é a primeira parte da atividade física e tem como objetivo preparar o indivíduo tanto fisiologicamente como psicologicamente para a atividade física. A realização do aquecimento visa obter o estado ideal psíquico e físico, prevenir lesões e criar alterações no organismo para suportar um treinamento, uma competição ou um lazer, onde o mais importante é o aumento da temperatura corporal.
O aquecimento deve ser proporcional ao grau de exigência que será solicitado ao corpo, a depender do tipo de atividade física que se pretende fazer.
Cumprida esta etapa, o grupo está pronto para dançar. Mais uma vez, podemos recorrer a grande variedade de caminhos. É importante que se conheça alguns e que se decida pelo que melhor se ajusta ao grupo e aos objetivos do trabalho.
Improvisação coreográfica - Apesar de ser possível dançar no silêncio, geralmente acompanhamos uma melodia, um som que seja. Assim, preparar nosso corpo, física e mentalmente, para executar bem os movimentos, é atividade imprescindível nos encontros do grupo.
Há muitas propostas de improvisação. Improvisar, significa executar algo sem prévia preparação. Em dança, improvisar é coreografar e executar a coreografia simultaneamente. É um excelente exercício de avaliação e auto-avaliação, pois ao improvisar, acionamos em nossa memória cerebral e corporal, movimentos, gestos e desenhos corporais que estão registrados em nós, muitas vezes inconscientemente, e preparamos nossa mente e nosso corpo para responder aos estímulos musicais.
§ Iniciar, um momento de escuta da música. De olhos fechados, deixe a imaginação livre para visualizar imagens, cores, movimentos que lhe auxiliarão na execução da improvisação. Observe os sentimentos que a música desperta, seu ritmo, timbres melódicos e tudo o mais que lhe chamar a atenção.
§ Coloque novamente a música e deixe seu corpo lhe guiar. Permita-se!
Composição coreográfica e ensaios – Embora improvisar seja importante e nos traga grande satisfação, geralmente dançamos peças coreografadas, ou seja, executamos movimento pré-determinados e ensaiados para serem precisos.
Podemos começar a coreografar de várias maneiras. Uma das possibilidades é partirmos de uma palavra. Sim, uma simples palavra como despertar... este será nosso mote, nosso tema; buscaremos então uma música que se harmonize com esta idéia, buscaremos sinônimos e imagens que gostaríamos de passar com esta idéia.
Por exemplo, podemos estudar na passagem da Estrada de Damasco, o despertar de Paulo de Tarso (EMMANUEL, 1994, pp. 196 – 200), e o capítulo xvii de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Sede Perfeitos (KARDEC, 2003, pp. 271 –285). Queremos falar do despertar para as verdades do espírito, então trazemos sentimentos como alegria, reconhecimento, gratidão, etc. Podemos pedir ao grupo que pesquise tudo o que tiver alguma relação com o tema, por exemplo, poemas, textos, imagens, cores, enfim, tudo que possa alimentar a nossa criatividade.Escolhemos uma música instrumental, que nos dará maiores possibilidades de criação. Peguemos por exemplo, a música Marc e Bella de Moacyr Camargo[3] (Instrumental).
Quando coreografamos uma música instrumental não temos palavras que nos guiem mas os elementos presentes na música nos trazem muitas informações que não podemos ignorar: há um ritmo, um naipe de instrumentos com suas timbragens específicas, há momentos que se repetem e outros que variam; ouvir, ouvir e ouvir a música muitas e muitas vezes é o primeiro exercício a ser feito. Perceber sua pulsação, que imagens ela sugere, quais os sentimentos que desperta...
É importante que todo o grupo participe deste instante, pois assim a coreografia terá a riqueza da percepção de todos; cada um de nós capta as vibrações ao nosso redor de acordo com o nosso grau de adiantamento espiritual e o resultados das experiências vividas. Somos corpo físico, perispírito e espírito, que governa nossas ações. Somos luz, somos energia, emanamos energias, trocamos energias.
“Para definirmos, de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação.” (ANDRÉ LUIZ, 1987, p. 25)

Cada um de nós terá sentimentos, percepções e imagens diferentes ao ouvir uma mesma música... e é bom lembrar que o nosso público também.
E, se escolhermos trabalhar com uma música que tenha letra?... todo o processo de estudo e coreografia descrito anteriormente pode ser mantido; a grande diferença é que palavras são imagens, nosso cérebro tem armazenado imagens ligadas às palavras que ouvimos e aprendemos ao longo de nossas vidas, ele funciona por associação, logo, ao ouvirmos uma palavra, ele nos traz imagens, pessoas, acontecimentos, sentimentos, situações e tudo o mais que tenha associado àquela palavra.
Algumas palavras são do inconsciente coletivo e estão impressas em quase todo mundo de maneira mais ou menos parecida, mas ainda assim, há grande possibilidade de variações. Então, quando escolhemos uma música cantada para coreografar, criamos uma dificuldade maior, pois o público já não estará apenas sentindo e percebendo, mas acionará um pensar, devido às palavras. E se for uma música conhecida... aí arranjamos um problemão.
Bem, nada impede contudo, que coreografemos uma música com letra. Vamos usar a mesma canção de Moacyr Camargo[4].

Voar num sonho azul, voar, voar
Nos raios da lua azul, voarmos
Estrelas brilham em nós, brilhamos
Em suas mãos flores brilhantes
Nossos corpos reluzem
E em tanta luz, nos olhamos.
Nos conhecemos longe
Campos, beijos e flores
Onde corremos livres e belos
O belo azul em nós.
//:Crianças, anjos, vozes celestes
Cantam os sons soltos no universo
Brincam no azul lindos risos
Vale amar da Terra ao infinito azul:\\
A entrada do coro de crianças, nos trás alegria, possibilitando movimentos que lembrem jogos e brincadeiras infantis. Nos trás um sentimento de liberdade que nos dá vontade de voar... voar no infinito, no infinito azul... Moacyr nos fala de estrelas, flores, luzes, risos e anjos. Nos alimenta a alegria de fazermos parte da Criação Divina e a possibilidade real da evolução. Salienta o amor como alavanca desta evolução e a presença divina ao nosso redor.
Do ponto de vista coreográfico, podemos dizer que a letra do Moacyr nos remete à movimentos amplos, contínuos, com vigor e alegria, provavelmente haverá desenhos circulares ocupando espaço e adereços leves como lenços, fitas ou grandes leques poderão riscar desenhos no espaço, ampliando o corpo dos bailarinos. Saltos, carregas[5], movimentos que usem o nível alto, com intenção para cima e para longe, também são pedidos pela letra e melodia desta música. Pode ser um pas de deux[6], ou uma coreografia para corpo de baile... dificilmente será um solo, pois a música cresce ao longo de sua execução, parece preencher cada vez mais os espaços, sua vibração é contagiante.
Este é um exemplo de como coreografar coletivamente, mesmo não possuindo muitos conhecimentos técnicos. Se houver alguém que tenha algum conhecimento de dança e que deseje conduzir a criação coreográfica poderá utilizar alguns recursos simples como:
Células coreográficas – cria-se uma seqüência pequena de movimentos que será a célula coreográfica. Como na biologia, esta dará origem a várias outras. Na prática, essa seqüência criada é repetida com variações que podem ser de direção, de ritmo, de nível, de velocidade, de amplitude. Essas variações permitirão desenhos diferentes e criativos, que darão à coreografia o colorido necessário.
Seguindo a contagem – esta é uma técnica que exigirá algum conhecimento de iniciação musical. Primeiro faz-se uma decomposição da música, parte à parte, dividindo-a na sua estrutura de composição (pulsação, ritmo, compasso, estrofes, refrões, tema, etc.). A seguir, monta-se a coreografia sobre esta divisão, seguindo seu desenho sonoro. Normalmente se monta as seqüências de oito em oito tempos, mas isto dependerá da música escolhida. A contagem é muito útil também no instante de transmitir os passos aos bailarinos, auxiliando a manter o sincronismo.
Em qualquer método de criação coreográfica, busque explorar os elementos básicos da dança:
§ níveis (alto, médio e baixo)
§ direção (laterais, trás, frente, diagonais)
§ ritmo (pulsação, compasso, variação, contratempo, pontuação)
§ movimento (contínuo, quebrado, brusco, vigoroso, suave)
§ gestos (estilização, ampliação, variação)
§ percursos (desenhos feitos pela trajetória do movimento ou do corpo do bailarino)
Um outro momento muito importante é o pós-criação. Depois de pronta a coreografia, faz-se necessário fazer o que chamamos de limpeza dos movimentos, para corrigir os detalhes e fazer com que todos executem o mesmo movimento, no mesmo tempo, da mesma maneira e pelo mesmo percurso. Esse é um instante um pouco cansativo, mas imprescindível para garantir a plasticidade e sincronismo necessários.
E aí vai um conselho: é preferível que todos os bailarinos levantem as pernas a 45º com as pontas dos pés esticados, que cada um levantar em uma altura diferente, sem definição do movimento. Dedique o tempo que for necessário para este trabalho.
Mesmo quando o corpo de baile não estiver executando simultaneamente o mesmo movimento, ter os passos bem definidos, de onde partem, onde terminam, por onde passam, com precisão dentro da contagem da música, tornará mais bela a coreografia.
Outra dica: brincar com subgrupos dentro da coreografia, agrega valor e beleza à mesma. Em uma coreografia com quatro bailarinos, por exemplo, ora está um sozinho e os três juntos executam outra seqüência; daí a pouco subdividem-se em duplas; mais um pouco, a música cresce e estão todos juntos, sincronizados nos mesmos movimentos, e finalizam executando movimentos individuais.
Uma coreografia onde todos fazem o mesmo movimento o tempo todo, torna-se visualmente cansativa. Uma simples mudança de direção pode dar o toque especial: um executa a seqüência de frente enquanto dois fazem a mesma seqüência em diagonal para o público, e o último executa os movimentos ora para frente, ora de costas para a platéia. Em determinado momento, estão novamente todos juntos, sincronizados.
Uma variação de tempo, também pode dar esse toque diferente na coreografia. Dois começam a seqüência, os outros dois só iniciam oito tempos depois dos primeiros. De repente, um dos primeiros, pára, e espera os outros dois para seguir com estes. E assim por diante.
Explore ritmo, direção e movimento fazendo a coreografia ficar bela e interessante. Não tenha limites, solte a criatividade!
Já temos uma coreografia (ou mais de uma). Agora podemos pensar na apresentação que é, talvez, a melhor parte de todo este processo. Vou deixar isto com vocês, afinal sei que podem dar conta.
É um trabalho árduo este de dançar, não é? Mas é também muito prazeroso e engrandecedor. E quando se está entre amigos, fazendo o que se gosta, não há peso nem obrigação. Então, é só seguir e esperar o dia de dividir todo este trabalho com uma platéia que, esperamos, possa captar tudo o que aprendemos e somar ao nosso trabalho, em uma troca fraternal de energias.
E, por favor, não esqueça de me convidar para a estréia. Adorarei estar lá para aplaudir.

Denize de Lucena
(Salvador, Ba)
denizedelucena@terra.com.br

Bibliografia:

§ andré luiz (espírito); xavier, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. 10a. ed. Brasília, DF: FEB, 1987.
§ Novo Testamento – Primeira Epístola de Paulo Apóstolo aos Coríntios. in BÍBLIA SAGRADA. Ed. Pastoral – Bolso. 1a. ed. São Paulo - SP: Paulus, 1993.
§ BATISTA, Djalma. A importância do aquecimento na atividade física. Revista virtual EFArtigos. Natal/RN. Vol. 01, no. 06 jul. 2003. Disponível em :http://efartigos.atspace.org/otemas/artigo8.html acesso em : 12 jul. 2008.
§ KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. RIBEIRO, Guillon. (trad.) 121 ed. Rio de Janeiro – RJ: FEB, 2003.

[1] Com formação técnica em Artes Visuais pelo CESV e em Dança pela FUNCEB, Licenciada em Artes Cênicas pela UFBa, Pós-Graduada em Supervisão Escolar pela Cândido Mendes –RJ, espírita desde 1995, integrante da Comunidade Arte e Paz – Ba.

[2] Diretor teatral, fundador e teórico da Antropologia Teatral, fundador e diretor do Odin Teatret, na Noruega. Suas idéias estão registradas nos seus livros Terra de cinzas e diamantes. SP: Perspectiva, 2006; Além das Ilhas Flutuantes. SP: Hucitec,1991; A Arte Secreta do Ator. SP:Hucitec,1995 edição com Nicola Savarese e A Canoa de Papel. SP: Hucitec,1994.

[3] Música Marc e Bella de Moacyr Camargo, do CD Marc e Bella num Sonho Azul. (moacyrcamargo@uol.com.br)

[4] No CD Marc e Bella há as duas versões, em instrumental e cantada.
[5] termo usado quando os bailarinos são suspensos por outros.
[6] Do francês, passo de dois: termo usado no ballet clássico para designar coreografia executada por um casal de bailarinos. Peça obrigatória no ballet de repertório.

27 fevereiro 2009

Reflexões sobre o papel da arte na evangelização de espíritos

A aplicação da arte no desenvolvimento do ser humano vem desde o momento em que este é gerado.
Não é mais o momento de entendermos a arte apenas como fator de diversão e lazer. Muitos até já chegaram na concepção de arte como ferramenta de divulgação. Mas agora é hora de colocar a arte no seu verdadeiro posto: "A arte é um dos melhores veículos em que o espírito pode se apoiar para sua transformação". Ela não é mais uma ferramenta de divulgação, mas sim uma ferramenta que irá nos auxiliar em muito para o nosso desabrochar e nosso auto-conhecimento, trazendo a tona todos os sentimentos doentios que nosso espírito milenar carrega.
É hora de despertar, é hora de evoluir.
Na nossa caminhada para a perfeição tivemos a graça, de em jornada passada, receber o Cristo em nossa morada. Foi o primeiro convite para o despertar. Os tempos passaram e o Consolador Prometido alçou vôo ligeiro e eficaz, dando-nos a base de tudo: Kardec. Desta feita recebemos novo convite: Modificar.
Nos dias de hoje temos mais uma oportunidade de despertar, a Evangelização de Espíritos - A Pedagogia do Amor de Eurípedes Barsanulfo - que não traz nenhuma "novidade", ou algum conceito novo. Ela apenas nos convida a realmente conhecer e entender Kardec, e mais, nos dá alicerce para mergulharmos em André Luiz, Leon Denis e muitos outros.
A Evangelização de Espíritos nos depara frente a frente conosco mesmo. As frases são marcantes: "Sou espírito e tenho que viver como tal". "Evangelizar é um ato de amor". "Se sou um evangelizador, tenho que me evangelizar primeiro".
Igualmente a história da humanidade, a arte progrediu durante esse anos, ampliando o conhecimento dos artistas nas várias formas de externar seu pensamento. Hoje temos um movimento artístico de grande diversificação e de elevado teor conceitual.
Entendemos a arte como alicerce da doutrina espírita ao lado da trindade filosofia, religião e ciência. Já é uma realidade conceber a arte como fator preponderante para a doutrina dos espíritos e sua aplicação. Basta olharmos para dentro da codificação.
A arte dentro da evangelização tem agora conotação de veículo propulsor para a educação do espírito. Devemos fazer uso dela para trabalhar e modificar nossos sentimentos. É o momento do evangelizador de espíritos estar sintonizado com a aplicabilidade da arte.
Tudo isso faz por ruir as apresentações de final de ano onde as crianças decoram falas mecânicas e as repetem simultaneamente, sem que haja a passagem de alguma informação para sua memória emotiva. Festas ou comemorações, onde o belo é amplamente almejado e buscado, sem antes concebermos o simples, não tem mais sentido.
Perdemos o tempo enchendo o evangelizando de informações que não irão despertá-lo para a realidade.
A verdade a ser tratada é: "Você é um espírito". Agora para o evangelizador operar esta modificação no seu dia-a-dia, ele deverá primeiro se reconhecer como espírita, deixando de lado o seu famoso "conhecimento espírita", aprofundando-se no estudo da doutrina e no seu auto-conhecimento para alicerçar sua renovação.
Não é hora de aplicarmos oficinas de arte com conceitos espíritas para os que nos procuram. Temos a obrigação de gerar uma oficina voltada para o espírito, de forma que ele saia melhor do que quando entrou.
Desta forma, toda apresentação artística concebida tem de cara o seu objetivo: Auxiliar e libertar quem a concebeu. O que eu gerar através da arte deverá ser forte e enaltecedor para que primeiramente faça em mim uma modificação positiva, para então posteriormente ter a capacidade de atingir o público. A verdade deverá bater forte em meu peito para que eu tenha forças suficientes para externá-la de maneira eloquente e confiável. Desta feita, desabam as famosas "apresentações artísticas" e começamos a entender as "doações artísticas" e as "modificações em mim" (pela arte).
Um artista devidamente "evangelizado" no palco, terá força indescritível para atingir os espíritos presentes na platéia (encarnada ou não).
Tudo isso vai depender obviamente de nosso entendimento da doutrina espírita. Temos que definitivamente largar conceitos antigos e ultrapassados que não fazem parte da doutrina espírita. Devemos deixar para traz o carma, o castigo, o merecimento e a dívida, que não nos explicam absolutamente nada; e encarar a "necessidade" como a mola propulsora de todas as situações as quais nos deparamos quando encarnados.
É hora de esquecer a mediunidade como um fenômeno e entendê-la como ferramenta evolutiva. Devemos fazer uso dela para nosso aprimoramento e evolução. Sua aplicação no campo da caridade e da doação é maravilhosa.
Cabe a nós também, entrar no princípio da arte como ferramenta de expressão individual ou em grupo, para no seio desta, reconhecer a simplicidade como alavanca única da arte. Vamos entender simplicidade como pureza. Procurar o simples, gerar o simples, é criar o puro, gerar o puro.
Não nos cabe apenas buscar a beleza plástica, a eloquencia estética ou a elevação material / visual. Creiam, o simples por si só já é belo. A beleza é intrínseca a simplicidade.
No encontro da arte com o espiritismo temos um dínamo gerando luz ininterruptamente. Eles se completam, e sua fusão traz a tona a Criação Divina. Tudo é Arte no Universo. Deus é o Artista das nossas Almas. O conhecimento espírita dá bases seguras para o alavancar das artes neste novo milênio.
O convite atual é este: Estudar e se aprofundar. O que geramos necessariamente não precisa ser "mediúnico", mas se for feito com amor, seguramente terá uma "parceria" inigualável.
Quem trabalha na Seara de Jesus deve se utilizar da arte para o conhecimento e evolução, jamais como fator de reconhecimento.
É o momento de gerarmos textos, letras, danças, poesias, telas que versem sobre a responsabilidade de "Ser Espírito". Esquecer de vez os temas já maltratados sobre "os dois planos, reuniões mediúnicas, amores, ódios, obsessões"; vamos dar o enfoque da "evolução, quadros mentais, sintonias, vibrações, vontade, memória emotiva, campo mental". Temos que parar de tratar de "reencarnes" pura e simplesmente, explicando o que é "Planejamento Reencarnatório" e "Ambientação Reencarnatória". Temos que tirar a roupagem espírita que damos aos assuntos cotidianos, e aplicar o espiritismo e as leis da natureza divina em nossos assuntos do cotidiano.
Deixemos de lado por alguns instantes os romances e os contos, e vamos nos aprofundar no estudo de Allan Kardec, André Luiz e Leon Denis. Só desta forma teremos condições seguras de estarmos usando a arte como ferramenta evolutiva, compreendendo sua função na Evangelização de Espíritos.
Busquemos a Arte Espírita. Os conceitos passam, as temáticas passam, as estéticas passam, mas o espírito não, este veio para ficar.

Evangelização de Espíritos
Núcleo Santos

A Dança como expressão do Espírito - Eneida Nalini




"E que seja perdido o dia que não se dançou uma única vez..."
Nietzsche

Esse texto tem por finalidade demonstrar de maneira sucinta como a dança tem representado, através dos tempos, sua importância dentro do contexto espiritual, seja por meio de ritos em alguma religião ou crença, seja pelo simples ato de celebrar.
No espiritismo, a dança vem ganhando terreno como disciplinadora de ações e sentimentos por ser uma das expressões artísticas que pode trabalhar o corpo visando o bem estar do ser em sua essência.
A dança, além de sua importância por si só, pode auxiliar as outras artes, tornando o artista mais completo, pois desenvolve a consciência corporal, nos fornecendo dimensões maiores para expressar nossos sentimentos.
A pesquisa deste trabalho se fez mediante sites da internet e livros relacionados à dança e ao espiritismo. Alguns filmes também serviram de suporte. O trabalho da mostra de dança espírita da cidade de Araras que está na sua 7ª edição, nesse ano de 2008[1] também vem servindo como material de pesquisa de campo para que possamos teorizar e investigar a respeito da dança com temática espírita.
Sendo “a música mediadora entre a vida material e a vida espiritual” (ARMIN, in Oliveira, 1995, p.52) podendo ser usada para a dança acontecer, então, a dança também fica entre o material e o espiritual. Quando se abstém da música, ficam então os sons refletidos através das imagens que a dança pode proporcionar.
Quando o homem começou a dançar?
Acredita-se que o homem pré-histórico tenha desenhado momentos de dança nas paredes das cavernas. Movimentos que se unificados nos lembram uma coreografia fotografada. A arqueologia não deixa de indicar a existência da dança como parte integrante das cerimônias religiosas. Alguns teóricos afirmam que a dança nasceu como uma necessidade de expressão.
Os primeiros registros de atividades dançantes datam do Paleolítico Superior, quando os homens viviam em pequenas hordas isoladas, cultivando um primitivo individualismo, apenas ocupados em coletar alimentos. Não há indicação de que cultuassem alguma divindade ou acreditassem na vida após a morte, nem que possuíssem um pensamento lógico. Ao contrário, dominados pelo pensamento mágico, pareciam acreditar ser possível, através de representação pictórica, alcançar determinados objetivos: abater um animal, por exemplo. Nesse sentido é que se poderia interpretar as pinturas e desenhos encontrados nas paredes e tetos (...) a representação de figuras humanas disfarçadas de animais, numa atitude de executantes de danças mágicas destinadas a alcançar aquele intento. (MENDES, 1987, p.9).

O homem demonstra, através dos tempos, como a dança vem auxiliando seu autoconhecimento e suas variadas necessidades de se expressar. A dança muda de caráter e vestimenta através de diferentes momentos históricos, atendendo de uma maneira, talvez sutil, aquelas necessidades. As técnicas aparecem e, algum tempo depois, a negação delas. Os movimentos contemporâneos e os diferentes estilos nos dão possibilidade de um estudo abrangente sobre as diferenças apresentadas e refletidas em cada momento histórico. No entanto, não cabe a nós fazê-lo neste momento.

Papel social da dança
A dança tem sua relevância dentro de diferentes grupos sociais como, por exemplo, a escola, a comunidade e os grupos artísticos independentes.
Nos grupos espíritas, a dança vem sendo desenvolvida como parte do trabalho espiritual no qual o grupo se insere. Muitas vezes, em várias discussões acerca do trabalho espírita, os coordenadores de trabalho ainda não sabem como definir esta arte que começa a se destacar em nosso meio. Alguns grupos trabalham a temática, observando e cuidando das letras das músicas coreografadas, outros grupos tentam passar uma mensagem que tenha como base os princípios da doutrina.

Objetivos da dança na vida do espírito
A dança desenvolve ricos mecanismos de evolução do pensamento e do sentimento, pois disciplina atos e ajuda na construção de novos pensamentos e desejos. Ela pode promover no espírito um estado de alegria, afastando depressões e tristezas, quando bem direcionada. Renova seus quadros de memória de maneira prazerosa e disciplinada. Eleva o pensamento do espírito, sendo às vezes até caracterizada como uma atividade mediúnica.
A dança:
• modifica a vontade;
• reflete uma maneira de sentir;
• disciplina os sentimentos;
• ajuda a identificar as necessidades espirituais do ser e seus conflitos;
• é um processo educativo;
• processa identificação e limpeza nos quadros da memória e
• explora o pensamento e as emoções.
Acreditamos que a dança, como disciplinadora de sentimentos e conduta, deveria controlar a vaidade, dar consciência do espaço (você no espaço X espaço trabalhado), proporcionar cuidados com o corpo e a mente, com os processos mentais e com as ações como reprodução dos pensamentos.
O trabalho com crianças pode abrir uma oportunidade de vivência e convivência, disciplinando atos e abrangendo sua consciência quanto às possibilidades do corpo, sistematizando condutas.
Com adolescentes a dança disciplina e organiza ATOS, conscientiza a mente, abrange possibilidades do uso do corpo, disciplinando a sexualidade e a libido, ajuda a tratar o corpo como um instrumento do qual se faz uso, pois na doutrina sabemos que é o envoltório do qual nos utilizamos para o cumprimento das nossas tarefas (provas e expiações) no plano material.
Nos adultos percebemos uma reenergização, uma nova educação de postura e respiração e abertura de novas possibilidades de trabalho com o corpo.
O trabalho social cria oportunidades de trabalho nas áreas de teatro, expressão, coreografias e criações artísticas variadas, há valorização e entendimento do corpo, facilitando relações que estabeleçam o respeito como meta, notando-se uma preocupação maior com a saúde e também a multiplicação do trabalho.
A dança, através dos tempos, vem reforçando sua importância no contexto espiritual. Percebemos sempre a mensagem embutida nas danças com temática espírita: danças que permitem a reflexão de valores morais, éticos e espirituais.
Podemos concluir com este texto que a dança é, para alguns artistas espíritas, uma das expressões máximas do espírito, pois o artista se expõe por inteiro usando somente o corpo para sua execução.
A dança é uma aliada das artes, pois nos possibilita praticar nossa consciência corporal nos dando flexibilidade de ações. Ela é a expressão em si, pois seus movimentos podem relatar o que vai no íntimo do artista. Sendo bem trabalhada, com princípios e metas ordenadas dentro de objetivos que atendam à educação postural, moral e de consciência, a dança pode ser uma aliada no crescimento do ser humano, visto como integral, atendendo também às necessidades do espírito. Entende-se por dança, nesta dissertação, os movimentos corporais que podem ou não atender a técnicas. Movimentos que podem representar diferentes estilos e maneiras de se expressar, tendo como ferramenta o próprio corpo, trabalhado para a educação do espírito.

Sabemos que o Espiritismo contém um corpo de idéias todas elas confluentes para a edificação do ser humano em face da vida, no aqui e no agora existencial. Apesar de não ser ‘moralista’ como muitos de seus adeptos o apresentam, é moralizante em todos os sentidos, porque parte do pressuposto de que só poderemos cumprir nosso destino evolutivo orientando as ações por uma ética fundamentada no amor fraterno, aquele ensinado no Evangelho de Jesus, sejamos claro. (Tourinho, 1991: 15)

Observando a questão 127[2] do livro O Consolador, notamos que há uma questão de reforma íntima nos preceitos da pergunta sobre atividade artística. Cabe então, ao coreógrafo, trabalhar simultaneamente o que deve ser esta expressão através da dança. Além disso, a dança desenvolve a confiança, o respeito e a responsabilidade do trabalho em grupo, facilitando, assim, nossa reforma íntima.
Como escreveu Béjart (in Garaudy, 1973, p. 8)
...o homem está só diante do Incompreensível: angústia, medo, atração, mistério. As palavras de nada servem (...) o que é preciso é entrar em contacto. O que o homem busca para além da compreensão, é a comunicação. A dança nasce dessa necessidade de dizer o indizível, de conhecer o desconhecido, de estar em relação com o outro (...), e é claro, na relação máxima consigo mesmo.

Eneida Gomes Nalini de Oliveira
(Franca – SP)
eneidanalini@yahoo.com


Eneida Gomes Nalini de Oliveira – Professora de Literatura e Língua Inglesa (metodologia e prática) graduada pela Universidade de Franca (Unifran). Especialista em Língua Inglesa e Literaturas. Mestranda na área de lingüística. Participante ativa do Instituto Arte & Vida, da cidade de Franca-SP, desde a sua fundação como atriz, diretora, monitora e coordenadora de trabalhos desenvolvidos no Instituto. Formada em profissionalizante de ballet clássico pelo Instituto Musical Ars Nova, da cidade de Franca. Estudiosa na área de dança e suas diversas modalidades.










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

· OLIVEIRA, Weimar Muniz. Renascimento da arte, à luz da terceira revelação. Goiânia: Feego, 1995.
· EMMANUEL (Espírito) e XAVIER, Francisco Cândido (Médium). O consolador. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1940.
· GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Danser sa vie. Antônio Guimarães Filho e Glória Mariani. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1973.
· MENDES, Miriam Garcia, A dança. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1987.
· TOURINHO, Nazareno. A dramaturgia Espírita. Rio de Janeiro: FEB, 1991.


[1] A Mostra de Dança Espírita de Araras acontece todos os anos na cidade de Araras (SP); oficinas, estudos e mostra com temática espírita são enfatizados durante o encontro. Maiores informações: glussari@hotmail.com
[2] 127 – O preceito “corpo são, mentalidade sadia” poderá ser observado tão-somente pelo hábito dos esportes e labores atléticos?
No que se refere ao “corpo são”, o atletismo tem papel importante e seria de ação das mais edificantes no problema da saúde física, se o homem na sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a fonte da ginástica e do esporte, transformando-a em tablado de entronização da violência, do abastardamento moral da mocidade, iludida com a força bruta e enganada pelos imperativos da chamada eugenia (...)
“Bastará essa observação para compreendermos que a “mentalidade sadia” somente constituirá uma realidade quando houver um perfeito equilíbrio entre os movimentos do mundo e as conquistas interiores da alma.” (1940: 81)

Dança na Educação do Espírito

(Trechos do Livro: Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita – Teoria e Prática – Walter Oliveira Alves – IDE Editora)

“Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo.”

Embora menos comum no meio espírita, a dança vem ganhando cada vez mais espaço e demonstrando sua capacidade de sensibilizar.
A dança, embalada ao ritmo suave de melodias sensibilizadoras pode provocar emoções dantes nunca sentidas.
O espírito Camilo, em Memórias de um Suicida, narra um espetáculo cuja beleza “atingia o indescritível, quando, deslizando graciosamente pelo relvado florido, pairando no ar quais libélulas multicores, os formosos conjuntos evolucionavam...” O empolgante espetáculo era acompanhado de “orquestrações maviosas onde os sons mais delicados, os acordes flébeis de poderosos conjuntos de harpas e violinos (...) arrancavam de nossos olhos deslumbrados, de nossos corações enternecidos, haustos de emoções generosas que vinham para tonificar nossos espíritos, alimentando nossas tendências para melhor (...)”. Os espíritos, suicidas, cientes de sua condição e dos sofrimentos e desafios que os aguardavam, sentiam-se fortalecidos em sua vontade de crescer e se elevar.

A arte trabalhava com a energia volitiva, levando-os a querer evoluir, a querer melhorar-se.
* * * * * * * * * *

Quando nosso grupo de dança* foi formado as diversas turmas de evangelização estavam trabalhando a primeira parte de O Livro dos Espíritos, o tema Criação. Foi proposto ao grupo uma coreografia que desse a idéia de Evolução, idéia que, de início, pareceu arrojada demais.
No entanto, grupo se empenhou no trabalho, escolhendo as músicas com cuidado que, em poucas semanas, tínhamos uma coreografia representando toda a evolução, desde os seres unicelulares até o homem. A emoção foi intensa, e todos perceberam as possibilidades quase infinitas da dança**.
O grupo de dança, que recebeu o nome de Evolução, foi, durante muitos anos, o mais profícuo em criatividade e dinamismo***.

* Referência ao “Grupo Espírita de Dança Evolução”, criado em Dezembro de 1995 no Instituto de Difusão Espírita.

** Importante citar, que na formação do grupo, nenhum dos integrantes nunca havia feito uma aula técnica de dança, apenas uma jovem, que a partir de então assumiu a coordenação do grupo.

***O Grupo Espírita de Dança Evolução chegou a ter mais de cem integrantes, entre crianças, jovens, adultos e idosos e, ainda hoje, continua desenvolvendo o mesmo trabalho, agora também com deficientes físicos.


*******************

Acreditamos ser indispensável, para iniciar o trabalho, alguém com curso de dança e que, acima de tudo, realize a tarefa com muito amor. Todavia, temos a certeza que os trabalhadores sinceros estão por toda parte.
As possibilidades de criação poderão variar ao infinito.
Talvez o mais importante, seja manter no grupo o espírito de união e cooperação. E o cimento que dá coesão a toda obra desse porte é o amor.
A técnica é necessária, mas o amor ao trabalho bem feito, o amor à arte é indispensável.


“Assim como a música trabalha com os movimentos interiores da alma, a dança exterioriza os movimentos do seu mundo interior. Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo.A emoção vibra em seu coração e se exterioriza nos movimentos harmônicos do corpo, que representam os movimentos interiores da alma. O artista abre espaço o próprio espaço para a sua vibração, que se expande além do visual e atinge o expectador que pode captar, não só pelos olhos e pelos ouvidos, mas entrando em sintonia com essa vibração.” ( Educação do Espírito. Walter Oliveira Alves. IDE Editora – Cap. 8 – item 6)