27 fevereiro 2009

Reflexões sobre o papel da arte na evangelização de espíritos

A aplicação da arte no desenvolvimento do ser humano vem desde o momento em que este é gerado.
Não é mais o momento de entendermos a arte apenas como fator de diversão e lazer. Muitos até já chegaram na concepção de arte como ferramenta de divulgação. Mas agora é hora de colocar a arte no seu verdadeiro posto: "A arte é um dos melhores veículos em que o espírito pode se apoiar para sua transformação". Ela não é mais uma ferramenta de divulgação, mas sim uma ferramenta que irá nos auxiliar em muito para o nosso desabrochar e nosso auto-conhecimento, trazendo a tona todos os sentimentos doentios que nosso espírito milenar carrega.
É hora de despertar, é hora de evoluir.
Na nossa caminhada para a perfeição tivemos a graça, de em jornada passada, receber o Cristo em nossa morada. Foi o primeiro convite para o despertar. Os tempos passaram e o Consolador Prometido alçou vôo ligeiro e eficaz, dando-nos a base de tudo: Kardec. Desta feita recebemos novo convite: Modificar.
Nos dias de hoje temos mais uma oportunidade de despertar, a Evangelização de Espíritos - A Pedagogia do Amor de Eurípedes Barsanulfo - que não traz nenhuma "novidade", ou algum conceito novo. Ela apenas nos convida a realmente conhecer e entender Kardec, e mais, nos dá alicerce para mergulharmos em André Luiz, Leon Denis e muitos outros.
A Evangelização de Espíritos nos depara frente a frente conosco mesmo. As frases são marcantes: "Sou espírito e tenho que viver como tal". "Evangelizar é um ato de amor". "Se sou um evangelizador, tenho que me evangelizar primeiro".
Igualmente a história da humanidade, a arte progrediu durante esse anos, ampliando o conhecimento dos artistas nas várias formas de externar seu pensamento. Hoje temos um movimento artístico de grande diversificação e de elevado teor conceitual.
Entendemos a arte como alicerce da doutrina espírita ao lado da trindade filosofia, religião e ciência. Já é uma realidade conceber a arte como fator preponderante para a doutrina dos espíritos e sua aplicação. Basta olharmos para dentro da codificação.
A arte dentro da evangelização tem agora conotação de veículo propulsor para a educação do espírito. Devemos fazer uso dela para trabalhar e modificar nossos sentimentos. É o momento do evangelizador de espíritos estar sintonizado com a aplicabilidade da arte.
Tudo isso faz por ruir as apresentações de final de ano onde as crianças decoram falas mecânicas e as repetem simultaneamente, sem que haja a passagem de alguma informação para sua memória emotiva. Festas ou comemorações, onde o belo é amplamente almejado e buscado, sem antes concebermos o simples, não tem mais sentido.
Perdemos o tempo enchendo o evangelizando de informações que não irão despertá-lo para a realidade.
A verdade a ser tratada é: "Você é um espírito". Agora para o evangelizador operar esta modificação no seu dia-a-dia, ele deverá primeiro se reconhecer como espírita, deixando de lado o seu famoso "conhecimento espírita", aprofundando-se no estudo da doutrina e no seu auto-conhecimento para alicerçar sua renovação.
Não é hora de aplicarmos oficinas de arte com conceitos espíritas para os que nos procuram. Temos a obrigação de gerar uma oficina voltada para o espírito, de forma que ele saia melhor do que quando entrou.
Desta forma, toda apresentação artística concebida tem de cara o seu objetivo: Auxiliar e libertar quem a concebeu. O que eu gerar através da arte deverá ser forte e enaltecedor para que primeiramente faça em mim uma modificação positiva, para então posteriormente ter a capacidade de atingir o público. A verdade deverá bater forte em meu peito para que eu tenha forças suficientes para externá-la de maneira eloquente e confiável. Desta feita, desabam as famosas "apresentações artísticas" e começamos a entender as "doações artísticas" e as "modificações em mim" (pela arte).
Um artista devidamente "evangelizado" no palco, terá força indescritível para atingir os espíritos presentes na platéia (encarnada ou não).
Tudo isso vai depender obviamente de nosso entendimento da doutrina espírita. Temos que definitivamente largar conceitos antigos e ultrapassados que não fazem parte da doutrina espírita. Devemos deixar para traz o carma, o castigo, o merecimento e a dívida, que não nos explicam absolutamente nada; e encarar a "necessidade" como a mola propulsora de todas as situações as quais nos deparamos quando encarnados.
É hora de esquecer a mediunidade como um fenômeno e entendê-la como ferramenta evolutiva. Devemos fazer uso dela para nosso aprimoramento e evolução. Sua aplicação no campo da caridade e da doação é maravilhosa.
Cabe a nós também, entrar no princípio da arte como ferramenta de expressão individual ou em grupo, para no seio desta, reconhecer a simplicidade como alavanca única da arte. Vamos entender simplicidade como pureza. Procurar o simples, gerar o simples, é criar o puro, gerar o puro.
Não nos cabe apenas buscar a beleza plástica, a eloquencia estética ou a elevação material / visual. Creiam, o simples por si só já é belo. A beleza é intrínseca a simplicidade.
No encontro da arte com o espiritismo temos um dínamo gerando luz ininterruptamente. Eles se completam, e sua fusão traz a tona a Criação Divina. Tudo é Arte no Universo. Deus é o Artista das nossas Almas. O conhecimento espírita dá bases seguras para o alavancar das artes neste novo milênio.
O convite atual é este: Estudar e se aprofundar. O que geramos necessariamente não precisa ser "mediúnico", mas se for feito com amor, seguramente terá uma "parceria" inigualável.
Quem trabalha na Seara de Jesus deve se utilizar da arte para o conhecimento e evolução, jamais como fator de reconhecimento.
É o momento de gerarmos textos, letras, danças, poesias, telas que versem sobre a responsabilidade de "Ser Espírito". Esquecer de vez os temas já maltratados sobre "os dois planos, reuniões mediúnicas, amores, ódios, obsessões"; vamos dar o enfoque da "evolução, quadros mentais, sintonias, vibrações, vontade, memória emotiva, campo mental". Temos que parar de tratar de "reencarnes" pura e simplesmente, explicando o que é "Planejamento Reencarnatório" e "Ambientação Reencarnatória". Temos que tirar a roupagem espírita que damos aos assuntos cotidianos, e aplicar o espiritismo e as leis da natureza divina em nossos assuntos do cotidiano.
Deixemos de lado por alguns instantes os romances e os contos, e vamos nos aprofundar no estudo de Allan Kardec, André Luiz e Leon Denis. Só desta forma teremos condições seguras de estarmos usando a arte como ferramenta evolutiva, compreendendo sua função na Evangelização de Espíritos.
Busquemos a Arte Espírita. Os conceitos passam, as temáticas passam, as estéticas passam, mas o espírito não, este veio para ficar.

Evangelização de Espíritos
Núcleo Santos

A Dança como expressão do Espírito - Eneida Nalini




"E que seja perdido o dia que não se dançou uma única vez..."
Nietzsche

Esse texto tem por finalidade demonstrar de maneira sucinta como a dança tem representado, através dos tempos, sua importância dentro do contexto espiritual, seja por meio de ritos em alguma religião ou crença, seja pelo simples ato de celebrar.
No espiritismo, a dança vem ganhando terreno como disciplinadora de ações e sentimentos por ser uma das expressões artísticas que pode trabalhar o corpo visando o bem estar do ser em sua essência.
A dança, além de sua importância por si só, pode auxiliar as outras artes, tornando o artista mais completo, pois desenvolve a consciência corporal, nos fornecendo dimensões maiores para expressar nossos sentimentos.
A pesquisa deste trabalho se fez mediante sites da internet e livros relacionados à dança e ao espiritismo. Alguns filmes também serviram de suporte. O trabalho da mostra de dança espírita da cidade de Araras que está na sua 7ª edição, nesse ano de 2008[1] também vem servindo como material de pesquisa de campo para que possamos teorizar e investigar a respeito da dança com temática espírita.
Sendo “a música mediadora entre a vida material e a vida espiritual” (ARMIN, in Oliveira, 1995, p.52) podendo ser usada para a dança acontecer, então, a dança também fica entre o material e o espiritual. Quando se abstém da música, ficam então os sons refletidos através das imagens que a dança pode proporcionar.
Quando o homem começou a dançar?
Acredita-se que o homem pré-histórico tenha desenhado momentos de dança nas paredes das cavernas. Movimentos que se unificados nos lembram uma coreografia fotografada. A arqueologia não deixa de indicar a existência da dança como parte integrante das cerimônias religiosas. Alguns teóricos afirmam que a dança nasceu como uma necessidade de expressão.
Os primeiros registros de atividades dançantes datam do Paleolítico Superior, quando os homens viviam em pequenas hordas isoladas, cultivando um primitivo individualismo, apenas ocupados em coletar alimentos. Não há indicação de que cultuassem alguma divindade ou acreditassem na vida após a morte, nem que possuíssem um pensamento lógico. Ao contrário, dominados pelo pensamento mágico, pareciam acreditar ser possível, através de representação pictórica, alcançar determinados objetivos: abater um animal, por exemplo. Nesse sentido é que se poderia interpretar as pinturas e desenhos encontrados nas paredes e tetos (...) a representação de figuras humanas disfarçadas de animais, numa atitude de executantes de danças mágicas destinadas a alcançar aquele intento. (MENDES, 1987, p.9).

O homem demonstra, através dos tempos, como a dança vem auxiliando seu autoconhecimento e suas variadas necessidades de se expressar. A dança muda de caráter e vestimenta através de diferentes momentos históricos, atendendo de uma maneira, talvez sutil, aquelas necessidades. As técnicas aparecem e, algum tempo depois, a negação delas. Os movimentos contemporâneos e os diferentes estilos nos dão possibilidade de um estudo abrangente sobre as diferenças apresentadas e refletidas em cada momento histórico. No entanto, não cabe a nós fazê-lo neste momento.

Papel social da dança
A dança tem sua relevância dentro de diferentes grupos sociais como, por exemplo, a escola, a comunidade e os grupos artísticos independentes.
Nos grupos espíritas, a dança vem sendo desenvolvida como parte do trabalho espiritual no qual o grupo se insere. Muitas vezes, em várias discussões acerca do trabalho espírita, os coordenadores de trabalho ainda não sabem como definir esta arte que começa a se destacar em nosso meio. Alguns grupos trabalham a temática, observando e cuidando das letras das músicas coreografadas, outros grupos tentam passar uma mensagem que tenha como base os princípios da doutrina.

Objetivos da dança na vida do espírito
A dança desenvolve ricos mecanismos de evolução do pensamento e do sentimento, pois disciplina atos e ajuda na construção de novos pensamentos e desejos. Ela pode promover no espírito um estado de alegria, afastando depressões e tristezas, quando bem direcionada. Renova seus quadros de memória de maneira prazerosa e disciplinada. Eleva o pensamento do espírito, sendo às vezes até caracterizada como uma atividade mediúnica.
A dança:
• modifica a vontade;
• reflete uma maneira de sentir;
• disciplina os sentimentos;
• ajuda a identificar as necessidades espirituais do ser e seus conflitos;
• é um processo educativo;
• processa identificação e limpeza nos quadros da memória e
• explora o pensamento e as emoções.
Acreditamos que a dança, como disciplinadora de sentimentos e conduta, deveria controlar a vaidade, dar consciência do espaço (você no espaço X espaço trabalhado), proporcionar cuidados com o corpo e a mente, com os processos mentais e com as ações como reprodução dos pensamentos.
O trabalho com crianças pode abrir uma oportunidade de vivência e convivência, disciplinando atos e abrangendo sua consciência quanto às possibilidades do corpo, sistematizando condutas.
Com adolescentes a dança disciplina e organiza ATOS, conscientiza a mente, abrange possibilidades do uso do corpo, disciplinando a sexualidade e a libido, ajuda a tratar o corpo como um instrumento do qual se faz uso, pois na doutrina sabemos que é o envoltório do qual nos utilizamos para o cumprimento das nossas tarefas (provas e expiações) no plano material.
Nos adultos percebemos uma reenergização, uma nova educação de postura e respiração e abertura de novas possibilidades de trabalho com o corpo.
O trabalho social cria oportunidades de trabalho nas áreas de teatro, expressão, coreografias e criações artísticas variadas, há valorização e entendimento do corpo, facilitando relações que estabeleçam o respeito como meta, notando-se uma preocupação maior com a saúde e também a multiplicação do trabalho.
A dança, através dos tempos, vem reforçando sua importância no contexto espiritual. Percebemos sempre a mensagem embutida nas danças com temática espírita: danças que permitem a reflexão de valores morais, éticos e espirituais.
Podemos concluir com este texto que a dança é, para alguns artistas espíritas, uma das expressões máximas do espírito, pois o artista se expõe por inteiro usando somente o corpo para sua execução.
A dança é uma aliada das artes, pois nos possibilita praticar nossa consciência corporal nos dando flexibilidade de ações. Ela é a expressão em si, pois seus movimentos podem relatar o que vai no íntimo do artista. Sendo bem trabalhada, com princípios e metas ordenadas dentro de objetivos que atendam à educação postural, moral e de consciência, a dança pode ser uma aliada no crescimento do ser humano, visto como integral, atendendo também às necessidades do espírito. Entende-se por dança, nesta dissertação, os movimentos corporais que podem ou não atender a técnicas. Movimentos que podem representar diferentes estilos e maneiras de se expressar, tendo como ferramenta o próprio corpo, trabalhado para a educação do espírito.

Sabemos que o Espiritismo contém um corpo de idéias todas elas confluentes para a edificação do ser humano em face da vida, no aqui e no agora existencial. Apesar de não ser ‘moralista’ como muitos de seus adeptos o apresentam, é moralizante em todos os sentidos, porque parte do pressuposto de que só poderemos cumprir nosso destino evolutivo orientando as ações por uma ética fundamentada no amor fraterno, aquele ensinado no Evangelho de Jesus, sejamos claro. (Tourinho, 1991: 15)

Observando a questão 127[2] do livro O Consolador, notamos que há uma questão de reforma íntima nos preceitos da pergunta sobre atividade artística. Cabe então, ao coreógrafo, trabalhar simultaneamente o que deve ser esta expressão através da dança. Além disso, a dança desenvolve a confiança, o respeito e a responsabilidade do trabalho em grupo, facilitando, assim, nossa reforma íntima.
Como escreveu Béjart (in Garaudy, 1973, p. 8)
...o homem está só diante do Incompreensível: angústia, medo, atração, mistério. As palavras de nada servem (...) o que é preciso é entrar em contacto. O que o homem busca para além da compreensão, é a comunicação. A dança nasce dessa necessidade de dizer o indizível, de conhecer o desconhecido, de estar em relação com o outro (...), e é claro, na relação máxima consigo mesmo.

Eneida Gomes Nalini de Oliveira
(Franca – SP)
eneidanalini@yahoo.com


Eneida Gomes Nalini de Oliveira – Professora de Literatura e Língua Inglesa (metodologia e prática) graduada pela Universidade de Franca (Unifran). Especialista em Língua Inglesa e Literaturas. Mestranda na área de lingüística. Participante ativa do Instituto Arte & Vida, da cidade de Franca-SP, desde a sua fundação como atriz, diretora, monitora e coordenadora de trabalhos desenvolvidos no Instituto. Formada em profissionalizante de ballet clássico pelo Instituto Musical Ars Nova, da cidade de Franca. Estudiosa na área de dança e suas diversas modalidades.










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

· OLIVEIRA, Weimar Muniz. Renascimento da arte, à luz da terceira revelação. Goiânia: Feego, 1995.
· EMMANUEL (Espírito) e XAVIER, Francisco Cândido (Médium). O consolador. 8ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1940.
· GARAUDY, Roger. Dançar a vida. Danser sa vie. Antônio Guimarães Filho e Glória Mariani. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1973.
· MENDES, Miriam Garcia, A dança. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1987.
· TOURINHO, Nazareno. A dramaturgia Espírita. Rio de Janeiro: FEB, 1991.


[1] A Mostra de Dança Espírita de Araras acontece todos os anos na cidade de Araras (SP); oficinas, estudos e mostra com temática espírita são enfatizados durante o encontro. Maiores informações: glussari@hotmail.com
[2] 127 – O preceito “corpo são, mentalidade sadia” poderá ser observado tão-somente pelo hábito dos esportes e labores atléticos?
No que se refere ao “corpo são”, o atletismo tem papel importante e seria de ação das mais edificantes no problema da saúde física, se o homem na sua vaidade e egoísmo não houvesse viciado, também, a fonte da ginástica e do esporte, transformando-a em tablado de entronização da violência, do abastardamento moral da mocidade, iludida com a força bruta e enganada pelos imperativos da chamada eugenia (...)
“Bastará essa observação para compreendermos que a “mentalidade sadia” somente constituirá uma realidade quando houver um perfeito equilíbrio entre os movimentos do mundo e as conquistas interiores da alma.” (1940: 81)

Dança na Educação do Espírito

(Trechos do Livro: Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita – Teoria e Prática – Walter Oliveira Alves – IDE Editora)

“Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo.”

Embora menos comum no meio espírita, a dança vem ganhando cada vez mais espaço e demonstrando sua capacidade de sensibilizar.
A dança, embalada ao ritmo suave de melodias sensibilizadoras pode provocar emoções dantes nunca sentidas.
O espírito Camilo, em Memórias de um Suicida, narra um espetáculo cuja beleza “atingia o indescritível, quando, deslizando graciosamente pelo relvado florido, pairando no ar quais libélulas multicores, os formosos conjuntos evolucionavam...” O empolgante espetáculo era acompanhado de “orquestrações maviosas onde os sons mais delicados, os acordes flébeis de poderosos conjuntos de harpas e violinos (...) arrancavam de nossos olhos deslumbrados, de nossos corações enternecidos, haustos de emoções generosas que vinham para tonificar nossos espíritos, alimentando nossas tendências para melhor (...)”. Os espíritos, suicidas, cientes de sua condição e dos sofrimentos e desafios que os aguardavam, sentiam-se fortalecidos em sua vontade de crescer e se elevar.

A arte trabalhava com a energia volitiva, levando-os a querer evoluir, a querer melhorar-se.
* * * * * * * * * *

Quando nosso grupo de dança* foi formado as diversas turmas de evangelização estavam trabalhando a primeira parte de O Livro dos Espíritos, o tema Criação. Foi proposto ao grupo uma coreografia que desse a idéia de Evolução, idéia que, de início, pareceu arrojada demais.
No entanto, grupo se empenhou no trabalho, escolhendo as músicas com cuidado que, em poucas semanas, tínhamos uma coreografia representando toda a evolução, desde os seres unicelulares até o homem. A emoção foi intensa, e todos perceberam as possibilidades quase infinitas da dança**.
O grupo de dança, que recebeu o nome de Evolução, foi, durante muitos anos, o mais profícuo em criatividade e dinamismo***.

* Referência ao “Grupo Espírita de Dança Evolução”, criado em Dezembro de 1995 no Instituto de Difusão Espírita.

** Importante citar, que na formação do grupo, nenhum dos integrantes nunca havia feito uma aula técnica de dança, apenas uma jovem, que a partir de então assumiu a coordenação do grupo.

***O Grupo Espírita de Dança Evolução chegou a ter mais de cem integrantes, entre crianças, jovens, adultos e idosos e, ainda hoje, continua desenvolvendo o mesmo trabalho, agora também com deficientes físicos.


*******************

Acreditamos ser indispensável, para iniciar o trabalho, alguém com curso de dança e que, acima de tudo, realize a tarefa com muito amor. Todavia, temos a certeza que os trabalhadores sinceros estão por toda parte.
As possibilidades de criação poderão variar ao infinito.
Talvez o mais importante, seja manter no grupo o espírito de união e cooperação. E o cimento que dá coesão a toda obra desse porte é o amor.
A técnica é necessária, mas o amor ao trabalho bem feito, o amor à arte é indispensável.


“Assim como a música trabalha com os movimentos interiores da alma, a dança exterioriza os movimentos do seu mundo interior. Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo.A emoção vibra em seu coração e se exterioriza nos movimentos harmônicos do corpo, que representam os movimentos interiores da alma. O artista abre espaço o próprio espaço para a sua vibração, que se expande além do visual e atinge o expectador que pode captar, não só pelos olhos e pelos ouvidos, mas entrando em sintonia com essa vibração.” ( Educação do Espírito. Walter Oliveira Alves. IDE Editora – Cap. 8 – item 6)

26 fevereiro 2009


ESPIRITISMO NA DANÇA



“...Cada vez que penso em dança; Meu corpo ganha uma vida exuberante; Um brilho que nenhum ser humano tem;Minhas mãos falam várias línguas; Que todos conseguem entender; Meus pés ganham vida como se dançassem sós;Meu corpo grita; Todas as palavras do meu espírito;Como se eu nunca tivesse falado...”
Mayra Santos


Se apurarmos o nosso olhar no movimento de arte espírita, mais precisamente nas diferentes linguagens artísticas presente no movimento, veremos que, enquanto os grupos de música, os corais, os grupos teatrais representam centenas no movimento espírita, a dança ainda se move timidamente nestes cenários. Os motivos são inúmeros. Vão desde o preconceito com esta forma de arte, geralmente vinculada à sensualidade e temas menos dignos veiculados pela mídia até a falta de pessoas preparadas para trabalhar com um grupo de interessados, já que exige uma formação técnica. Nosso intuito não é o de fazer comparações, nem quantificarmos qual linguagem artística têm mais adesões no movimento espírita, apenas aguçarmos mais o nosso olhar para enxergarmos a dança no contexto do movimento de arte espírita. Apesar de se verificar um crescimento no número de grupos espíritas de dança, sua representatividade ainda é pequena em relação às demais formas artísticas.
Além de contextualizar a dança no movimento espírita, nosso objetivo é refletir sobre sua especificidade e os benefícios de sua prática de forma sucinta, baseando nossa fala na experiência de dez anos no trabalho de difusão do espiritismo na dança, do nosso contato com grupos espíritas de dança através da Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito” [1], e do embasamento teórico de pesquisadores da dança e de autores da nossa vasta codificação como Léon Denis.
Entendemos aqui, por grupo espírita de dança, um conjunto de pessoas, sejam jovens, adultos ou crianças que se reúnem regularmente para aprimorarem técnicas de dança, estudarem e montarem coreografias à luz do espiritismo, bem como realizarem apresentações.


A dança no movimento espírita

“... Sim, certamente o Espiritismo abre á arte um campo novo, imenso e ainda inexplorado; e quando o artista reproduzir o mundo espírita com convicção, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações, e o seu nome viverá nos séculos futuros, porque às preocupações materiais e efêmeras da vida presente, substituirá o estudo da vida futura e eterna da alma.”
Allan Kardec

Há tempos temos observado que grande parte dos centros espíritas conta com um ou mais grupos de música, seja ele coral ou um grupo/banda de música. São muitos os grupos que lançam cd´s e fazem apresentações para público espírita e não espírita. Além disso, existem vários festivais, onde se estuda e se aprimora tecnicamente o trabalho vocal e tudo o que envolve a produção artística nessa área. O mesmo acontece na área da dramaturgia. Não podemos afirmar que toda casa espírita conta com um grupo de teatro, mas existe uma grande quantidade de grupos e festivais/encontros relativos a essa modalidade artística. Já a dança, é muito menos comum. Suas aparições se limitam a apresentações de fim de ano, onde um grupo se organiza e monta uma coreografia, geralmente turmas da evangelização infantil, às vezes aparece dentro de uma peça teatral onde há uma rápida performance ou numa apresentação de um grupo musical, onde algumas pessoas desenvolvem movimentos referentes à letra da música, ou nem isto, apenas movimentam-se seguindo o ritmo. Como dissemos anteriormente, menos comum que os grupos teatrais e musicais, existem grupos espíritas de dança, que trabalham especificamente esta linguagem artística, fazendo uso de técnicas e desenvolvendo um trabalho sério, mas em relação às demais linguagens artísticas seu número é muito reduzido.
Buscando motivos para entender, para contextualizar, tentaremos listar alguns itens que podem explicar o porquê:
Preconceito – essa palavra é um tanto quanto forte, mas buscando a ajuda de um dicionário vemos que “preconceito é um conceito antecipado; opinião formada sem reflexão, superstição, prejuízo”. Acreditamos que essa palavra cabe aqui em nossa discussão. A dança, diferente de outras linguagens, sofre com o preconceito. Geralmente quando se fala em dança, a maioria das pessoas a liga a sensualidade, a sexualidade, a imagens estereotipadas passadas pela mídia. Segundo OSSONA (1984), a dança, que muitos historiadores apontaram como a mais antiga das artes, é paradoxalmente – em sua forma culta – a de mais recente aparição entre nós. Somado a isso, temos o pouco acesso que a maioria das pessoas tem a espetáculos de dança, contribuindo para que seja criado um preconceito, já que o modelo mais próximo é o passado pelos veículos de comunicação ou referente a própria cultura regional em que o sujeito está inserido. Essa questão é muito interessante, porque estudando a dança em outras correntes religiosas verificamos o mesmo conflito, a mesma dificuldade nesta linguagem artística.
Outro fator está relacionado com a sua própria especificidade. A música e a dramaturgia têm a palavra a seu favor, o que facilita o entendimento da mensagem que se queira transmitir. Já na dança, é preciso criar um movimento sem o uso da palavra, o que nem sempre é tão fácil. A coreografia é criada sem um roteiro pronto, que se encontra numa obra, mas num roteiro que se constrói da interação do estudo da doutrina com a criação de movimentos relacionados com a mensagem que se queira transmitir ou fazer sentir. Daí encontrarmos muitas pessoas com formação técnica na dança nos fazendo a clássica pergunta: Espiritismo na dança, como fazer?
A ausência de pessoas com formação técnica na área e que tenha conhecimento da doutrina, às vezes representa um empecilho, principalmente para os grupos que estão começando, pois apesar de terem um respaldo técnico de um profissional da área, a montagem da coreografia se torna encargo do grupo, já que exige estudo e conhecimento da doutrina espírita.

O objetivo de listarmos esses itens, não foi de qualquer forma o de fazermos um levantamento das dificuldades encontradas, mas de tentarmos entender porque a dança ainda aparece tímida no movimento de arte espírita, enquanto as demais modalidades aparecem de forma mais expressiva.
O panorama da dança no movimento de arte espírita vem se ampliando. Muitos grupos têm sido criados e os já existentes buscam aprimoramento técnico e doutrinário. O objetivo maior é a união dos grupos para que se ajudem mutuamente compartilhando experiências, produzindo materiais, organizando mostras, enfim, crescendo juntos.

Novos horizontes


“Usa a criatividade e a beleza da Arte para modelar o protótipo ideal do "homem novo" que será aquele que hoje se apresenta à tua frente como Espírito sedento de educação com amor”.
Autor desconhecido


Segundo ACHCAR (1980), a dança em sua forma elementar é uma necessidade natural e instintiva do homem exaurir, pela movimentação, um estado emocional. É a arte do movimento e da expressão, onde a estética e a musicalidade prevalecem.
A dança, como as demais formas de arte acompanham o homem no seu processo evolutivo, evoluindo com ele.

“Como há evolução nos seres, há evolução nas artes. Têm-se os primitivos nas artes da mesma forma que nas ações e nas virtudes, porém a centelha sempre brilha nas condições nas quais pode manifestar-se para afirmar a grandeza de Deus.” (Dennis, 1922, p.77)

Isto se torna claro se voltarmos nosso olhar ao homem primitivo e suas manifestações ainda desordenadas e instintivas e caminharmos com ele e sua dança pelo Egito, Assíria, Pérsia, índia, China, Grécia, Roma e Europa Ocidental, prosseguindo pela Idade Média, Renascença até nossos dias.
A prática da dança permite ao homem enriquecer tanto qualidades físicas, como psíquicas e espirituais. No que diz respeito as primeiras podemos citar: a beleza corporal, a visão, a precisão, a coordenação, a flexibilidade, a tenacidade, a imaginação, a expressão, o trabalho em grupo, a cooperação, entre tantos outros benefícios. Mas é no campo espiritual que entendemos toda a sua extensão:


“Assim como a música trabalha com os movimentos interiores da alma, a dança exterioriza os movimentos do seu mundo interior. Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo. A emoção vibra em seu coração e se exterioriza nos movimentos harmônicos do corpo, que representam os movimentos interiores da alma. O artista abre espaço no próprio espaço para a sua vibração que se expande além do visual e atinge o expectador que pode captar, não só pelos olhos e pelos ouvidos, mas entrando em sintonia com essa vibração.” (Alves, 2000, p.206)

Daí a importância fundamental da reforma íntima, o grande diferencial que transforma nossa arte e nos transforma. O objetivo primeiro de todo grupo espírita de dança – modificar-se.
Finalizando nosso artigo, acreditamos que muito há o que ser estudado e pesquisado acerca da dança no espiritismo, estamos no limiar de um processo, mas o futuro depende do nosso trabalho no hoje.
Sabemos que há um longo caminho pela frente, cheio de pedras e às vezes espinhos, mas as flores e as alegrias nos esperam na medida do nosso esforço por renovarmo-nos. Assim, num equilíbrio perfeito, o que deve nos mover é a busca pela técnica para que o nosso instrumento de expressão se torne cada vez melhor e a busca pela melhoria interior, para que sintonizados com o Alto possamos expressar pela dança nossa essência divina que emana de Deus.

Daniela Luciana Pereira Soares

Referências bibliográficas:

ACHCAR, Dalal. Balé uma arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998.
ALVES, Walter Oliveira. Introdução ao Estudo da Pedagogia Espírita: Teoria e Prática. 1ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 2000.
DENNIS, Leon. O Espiritismo na arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Publicações Lachâtre, 1994.
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 3ª ed. Araras/São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1995.
OSSONA, Paulina. A Educação pela Dança. São Paulo: Summus, 1988.
ROCHA, Ruth. Minidicionário São Paulo: Scipione, 1995.

[1] A I Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito”, aconteceu em 5 de Outubro de 2001 no Instituto de Difusão Espírita, na cidade de Araras/SP. Ela foi criada e idealizada pelos integrantes do Grupo Espírita de Dança Evolução.
Observando que dentro do meio espírita é muito comum se verem manifestações artísticas na área do teatro e música e muito raro na área de dança, resolveram organizar uma mostra de dança espírita, com o intuito de: divulgar e valorizar a dança como forma de expressão artística dentro do movimento espírita, propiciando espaço para que ela se desenvolva; promover a integração e a troca de experiências entre diferentes grupos espíritas de dança; estimular criação coreográfica embasada nos ensinamentos espíritas (nas obras básicas da codificação); propiciar o estudo e reflexão acerca da arte espírita. Em sua primeira edição, a Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito”, contou com a participação dos seguintes grupos: Grupo JECAL – São Paulo/SP, Grupo Sáphyra - Recife/PE, Grupo FEH – São Paulo/SP, Casas André Luiz – SP/SP, Grupo Arte Vidinha – Franca/SP, Grupo de Dança Apae – Araras/SP, Grupo Espírita de Dança Evolução – Araras/SP e Grupo Graça e Luz – SP/SP. Desde então, a Mostra Espírita de Dança “Oficina do Espírito” nunca mais parou, realizou-se a segunda em Dezembro de 2002, contando com a participação de além dos grupos já citados, dos grupos de Leme, Pirassununga e de participantes de Campinas, Araraquara e São Carlos. A Mostra hoje, está na sua 7ª edição.