29 agosto 2010

"A Arte e a Educação à luz da doutrina espírita"

                                                                         Anna Rita Ferreira de Araújo
A arte tem papel fundamental na formação do ser humano. Se assim não o fosse, ela não estaria presente em nossa sociedade desde a antiguidade. Ela está em nossas vidas, nas mais variadas formas, da hora em que acordamos até a hora em que dormimos, por toda a nossa existência.

O problema é que muitas vezes não nos damos conta desta presença e isso se dá em função do “anestesiamento” dos sentidos provocado, em parte, pela perda gradual dos significados dos objetos e das relações em nossa vida social. Mas é ela, nas suas diversas expressões e manifestações, o que dá sentido às nossas vidas e nos propicia a compreensão do mundo social e cultural.

No caso da arte à luz da doutrina espírita, esta também pode nos levar à compreensão do mundo espiritual e de nosso papel no processo evolutivo individual e coletivo.

Poderíamos, assim, indagar:

"144 - Qual a destinação da Arte no mundo e de que maneira ela evolui?

A Arte tem como meta materializar a beleza invisível de todas as coisas, despertando a sensibilidade e aprofundando o senso de contemplação, promovendo o ser humano aos páramos da Espiritualidade. Graças à sua contribuição , o bruto se acalma, o primitivo se comove, o agressivo se apazigua, o enfermo se renova, o infeliz se redescobre, e todos os outros indivíduos se ascendem na direção dos Grandes Cimos. A arte permanecerá no mundo assinalando as fases de progresso ou de tormenta das criaturas, porém oferecendo sempre harmonia e trabalhando os sentimentos elevados. Desse modo, evolui do grotesco ao transcendental, aprimorando as qualidades e tendências, que estarão sempre à frente dos comportamentos de cada época. Lentamente, e às vezes com rapidez, a Arte se desenvolve alterando os conteúdos e melhor qualificando a mensagem de que se faz portadora. "

(Divaldo P. Franco por Vianna de Carvalho. in: Atualidade do Pensamento Espírita. LEAL editora )


A arte é expressão da alma humana em sua essência maior: a capacidade criadora. É a ligação com o criador. E por assim ser é sempre elevada? Não, pois se manifesta de acordo com o grau evolutivo da criatura. Mas é força que impulsiona e gradativamente conduz a alma ao seu destino divino.


“A arte é forte elemento de interação vertical, onde a alma interage com as energias espirituais superiores que pululam no Universo. À medida em que interage, desenvolve seu potencial anímico que se manifesta no querer, ampliando sua faixa vibratória em níveis superiores, a arte aprimora os sentimentos, direcionando os impulsos da alma para os canais superiores da vida. Na alma enobrecida e elevada, a arte vive e vibra intensamente.

Nesse sentido, não poderá haver educação do Espírito fora da arte superior e nobre.”

(Fonte: CVDEE - Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo)

A arte elevada, bem como a verdadeira educação, não são ferramentas que ajustam ou moldam os sujeitos às regras morais e culturais da sociedade. São, em verdade, as asas que nos alçam à liberdade.

Mas o que é ser livre?

É ser autor e personagem de sua própria história. Ser seu próprio artífice.

Muitos confundem o evangelizar e os usos da arte na casa espírita, com a idéia de doutrinar e moldar o jovem de maneira que este se encaixe às concepções do “bom espírita” e do “bom cidadão”. Mas a real transformação não é realizada de fora para dentro. É, sim, pela ação do sujeito sobre si mesmo, entendendo-se como um ser eterno e em constante evolução. Assim sendo, a arte e a evangelização na casa espírita deveriam ser o espaço para a reflexão, para a indagação, para a investigação, para a expressão e, acima de tudo, para o autoconhecimento e o AMOR.

O evangelizador/artista seria o guia/provocador desse processo e não o controlador/determinador. Seria aquele que cria as condições, provoca e envolve amorosamente os sujeitos em um clima favorável ao exercício, à criação e a reflexão sobre o fazer, o conhecer e o ser.

As diversas manifestações da arte e seu caráter educador e integrador.

Vejamos trechos do livro “Prática Pedagógica na Evangelização”, de Walter de Oliveira Alves, Editora IDE, a fim de refletirmos sobre as diferentes manifestações da arte e seu papel transformador das almas.

Teatro:

(...)Nada melhor do que a dramatização e o teatro para levar a criança a vivenciar certas emoções e situações. À medida em que vivência, ela trabalha com suas próprias energias íntimas, colocando-se no lugar do outro. O teatro levará a criança e o jovem a vivenciar situações, a imitar personagens, cujas personalidades poderão ser por ela assimiladas e que depois quererá vivenciar na prática.


Artes Visuais:

(...)O desenho, a pintura, a modelagem são atividades criadoras, que poderão conduzir as energias do Espírito para canais criativos superiores.


Música:

(...)O elemento melódico da música, em harmonia com o ritmo, embala a própria alma, ativando os movimentos interiores do Espírito. A arte melódica-harmônica-rítmica da música atinge as profundezas da alma, transportando o ser espiritual para as esferas superiores da vida, através da inspiração superior, atingindo as vibrações do mundo espiritual elevado e nobre.


Dança:

(...)Dançando, o homem transcende o ser físico, adentrando na harmonia com o ser espiritual que há em si mesmo e exterioriza esse ser espiritual em vibrações harmônicas nos movimentos de seu corpo. A emoção vibra em seu coração e se exterioriza nos movimentos harmônicos do corpo, que representam os movimentos interiores da alma.

Literatura

(...)A história mobiliza suas energias interiores e a criança, embora imóvel, está em ação, viajando por lugares inimagináveis. A capacidade sonhadora é impulso irresistível a atraí-la para mais alto.


Como podemos observar no texto acima, as diversas manifestações artísticas (e devemos incluir aí as artes tecnológicas) mobilizam os sujeitos e, se vivenciadas na intensão do amor e do bem, conduzem ao autoconhecimento, à estética e ao desenvolvimento moral e espiritual.

Os jovens e as criançs da atualidade são espíritos de uma nova era de transformação planetária. São almas sedentas e carentes. Muitos, em suas últimas tentativas de redenção neste orbe. Outros, já preparados para a nova etapa evolutiva da Terra. São almas que em sua complexidade não mais são tocadas simplesmente pelas palavras de ordem ou autoritarismos.

A urgente necessidade da reforma íntima convoca o ser em sua inteiridade, não apenas o seu intelecto, mas este, integrado à corporalidade e a subjetividade, conectados à natureza. Assim sendo, a arte, em suas diferentes linguagens, propicia esta integração holística potente, necessária e carregada de sentidos.


Recursos, metodologias e propostas.

“Técnicas e métodos pedagógicos são totalmente secundários e mudam segundo a época, os costumes, os avanços tecnológicos. O importante é a compreensão das finalidades fundamentais da educação, que é o desenvolvimento integral do ser, rumo à transcendência; o importante é o papel do educador, que deve ser aquele que provoca, instiga, desencadeia esse desenvolvimento, graças ao seu amor, ao seu exemplo e seu contágio moral e intelectual. (...)É preciso dar espaço à criatividade, convocar as pessoas a criarem suas próprias propostas. Para se implantar uma proposta aberta assim, é preciso conhecer muito bem o espiritismo e ser democrático, afetivo, fazendo uma opção sincera pelo não-autoritarismo.” (Dora Incontri)

Ser um guia/provocador não é tarefa simples, pois não é “deixar acontecer”. Mas, sim, é saber “fazer acontecer”. E isso envolve, por parte do evangelizador/artista, comprometimento com:



 Estudo Produtivo (Processo criador de formas artísticas, materiais, processos e linguagens)

 Estudo Teórico (Arte, História, Estética, autores, teorias e abordagens)

 Estudo Crítico (Apreciação da arte e da natureza)

 Exercícios de Recursos Internos (Percepção, intuição, imaginação, reflexão, afetividade)

 Estudos Pedagógicos (Conhecimentos situados na Educação)

 Estudos Doutrinários e Filosóficos (Religiões, Espiritismo, Ética e Moral)



É necessário preparo intelectual, afetivo, moral e espiritual para a grande tarefa. Pois a arte e seu ensino serão, neste milênio, a tessitura da transformação e recriação das ações educacionais. Os Centros Espíritas necessitam estar integrados a essa nova era que nos chega. Tem o evangelizador/artista o papel de colaborar na transformação da casa espírita e no desenvolvimento integral dos jovens. Acredito firmemente nesta possibilidade. Como é possível? Costumo dizer que é funcionar como um bom despertador de sensibilidades e consciências. Os recursos? São as almas. As metodologias? O amor e a sabedoria. E as propostas? A criação e a realização.

E o quê, você artista e/ou evangelizador da seara espírita tem a ver com isso?

_ TUDO! A transformação está em nossas atitudes. Mãos à obra!

Um comentário:

Rosemir Tavares disse...

Olá!!!! sou espirita também de Recife, muito bom seu blog, estou te seguindo, será um prazer tê-la com seguidora Alegria de viver